ZERO HORA 04 de outubro de 2012 | N° 17212
SEGURANÇA. O lugar da Brigada. Governo discute policiais em estádios
LEANDRO BEHS
A
Secretaria de Segurança Pública do Estado quer debater com os clubes a
necessidade de um grande efetivo da Brigada Militar a cada jogo da
Dupla. O secretário Airton Michels deseja a redução do número de
policiais na segurança interna dos estádios para, assim, aumentar o
número de brigadianos nas ruas.
Michels se apoia nas
regras da Fifa, que determina que as sedes da Copa em 2014 tenham
segurança interna privada nos jogos, para criar uma nova cultura no
futebol gaúcho.
– Faz diferença ter cem homens na rua e
não dentro do estádio. Na Copa, a segurança interna será privada, com
apoio da Polícia Militar. A partir de 2013 temos o dever de construir
esse debate – disse o secretário.
Airton Michels cita o
Gre-Nal de 26 de agosto, pelo primeiro turno do Brasileirão, para
exemplificar o engessamento de parte do efetivo em um final de semana.
Para o clássico, que teve 10.617 torcedores, 250 brigadianos foram
mobilizados durante todo o domingo – e parte deles também no sábado. Cem
estavam dentro do Beira-Rio. O secretário defende que um efetivo menor
fique no estádio, contando com o apoio do BOE (Batalhão de Operações
Especiais), que manteria seus pelotões na área externa.
–
Parte desse efetivo poderia estar policiando a cidade no final de
semana. Mas o policiamento externo continuará, é dever do Estado, isso
não se discute – acrescentou Michels.
O secretário não
chega a defender o retorno da “Taxa de Brigada”, uma tentativa do
governo Germano Rigotto de cobrar dos clubes o serviço prestado em
jogos. O advogado do Inter Mauro Glashester lembra que, após as partidas
no Beira-Rio, a secretaria enviava a conta, calculada sobre o número de
torcedores no estádio.
– Nenhum clube pagava e o
Estado a lançava como dívida ativa, entrando com execução fiscal. Fomos à
Justiça: não é possível individualizar a segurança, é responsabilidade
do Estado, porque além do estádio é preciso dar segurança também ao
entorno – afirmou Glashester, citando que o Superior Tribunal Federal
também entende assim a questão.
A dupla Gre-Nal gasta,
em média, R$ 50 mil por jogo com segurança privada. Em grandes jogos,
são 350 homens contratados. O efetivo privado cai para 200 em partidas
comuns. Para o presidente do Grêmio, Paulo Odone, a discussão não se
sustenta:
– É dever do Estado fazer a segurança em um
estádio com 30 mil, com 40 mil torcedores. Pagamos impostos para isso.
Para os clubes seria inviável trabalhar somente com seguranças. Em caso
de conflito, somente policiais têm o poder de agir. Seguranças nada
podem fazer.
Procurado por Zero Hora, o presidente do Inter, Giovanni Luigi, preferiu não se manifestar.
Tentativa de cobrança
Em
2007, o então secretário de segurança do Estado, José Francisco
Mallmann, buscou um acordo com a Dupla e com a FGF, para reduzir o
efetivo da BM nos estádios. O número de policiais nos jogos foi
diminuído e, conforme o acordo, para cada brigadiano presente era
preciso que o clube contasse com cinco seguranças privados. O acordo
durou alguns meses. Mallmann ainda desejava que os clubes pagassem pelo
policiamento, mas não teve sucesso.
– Faria tudo de
novo. Consegui colocar mais policiais na rua. Clubes investem milhões em
jogadores, por que não podem pagar pela segurança? – questiona
Mallmann.
O Estatuto do Torcedor prevê que o Estado
faça a segurança em jogos Assim como Michels, Mallmann entende que há
uma brecha na lei que permitiria à BM fazer o policiamento apenas na
área externa do estádio.
DADOS
250 brigadianos são deslocados para o policiamento no estádio a cada jogo da Dupla
R$ 45 mil é o custo que o Estado tem com essa operação
R$ 50 mil é quanto Grêmio e Inter gastam a cada partida com segurança privada
350 homens são contratados