domingo, 18 de novembro de 2012

O RIO GRANDE SEM A BRIGADA



CORREIO DO POVO, domingo, 18/11/12, pag. 16



OSCAR BESSI FILHO


Cena de um filme de ficção científica. Sujeito é pego em blitz numa rodovia estadual, feriadão, velocidade no dobro do permitido. Risco à vida dele? Dos outros? Não quer saber. Fica fulo com a multa e dá carteiraço. Em vão. Tenta subornar os brigadianos – que gaúcho, que é gaúcho, não diz policial militar, é brigadiano - e nada. Grita, ameaça, vai acabar com a carreira dos soldados. Eles nem dão bola. Todo infrator diz a mesma coisa. Só que o sujeito é milionário e financia um projeto para viajar no tempo. Que dá certo. E ele volta aonde? Ahm? Em 18 de novembro de 1837. O início de tudo.

Bom de lábia e chimarrão, convence o Presidente da Província de São Pedro, Antonio Elzeário – que chama de compadre Tonho, na maior intimidade - a não assinar a Lei Provincial nº 07. A Força Policial não é criada e não vai virar Brigada Militar. Nunca. Missão cumprida. Faceiro, ele volta ao futuro e os brigadianos não existem. As estradas estão liberadas e ele corre à vontade. É aí que olha ao redor e se apavora. O país está na miséria. Não uma miséria parcial e disfarçada, mas total. Sem a Brigada, o Rio Grande do Sul nem se mexeu para uma revolução em 30 e Getúlio nunca chegou ao poder. A política do café com leite só derramou o leite e seguiu depredando o país, sem ser importunada. Deu no que deu.

O obelisco não conheceu nossos cavalos. Nem os trabalhadores do Brasil viram CLT, salário mínimo, férias remuneradas, décimo terceiro e etc. Legalidade? Sem a BM? Necas. Brizola teve que sair antes e a ditadura veio mais cedo, em 61, matando e torturando ainda mais do que se deixasse para 64. Isto, em dois capítulos da História. Só por não haver Brigada Militar. E tinha mais.

Ele se apavorou. As praias, sem os salva-vidas e a Operação Golfinho, eram terras proibidas. Temidas. Desertas. O pampa agonizava. A natureza exuberante, sem Batalhão Ambiental, virou lixão. Bancos eram explodidos todos os dias sem reação. Traficantes vendiam drogas, bandidos achacavam velhos e crianças, mulheres eram agredidas sem socorro. As estradas viraram uma carnificina só, sem o Batalhão Rodoviário para fiscalizar. E ninguém ligava para o 190. Porque não tinha 190. Não havia quem chamar, nem para onde correr.

Apavorado, ele embarcou na sua máquina do tempo. Voltou ao 18 de novembro, 175 anos antes. “Tonho, Tonho!”, gritou, esbaforido, já alcançando a pena para que o Presidente da Província assinasse a lei de uma vez por todas. Sem pestanejar. “Bah, sem a Brigada não dá”, resmungou. E pediu cuidado para não borrar o papel. “Dá pra botar só mais um item aí, dando um aumentinho pra eles? Mas baixando minhas multas, tá? Pode ser?”.



NOTA DO AUTOR DO ARTIGO:  Minha coluna de hoje no Jornal Correio do Povo, pela passagem dos 175 anos da Brigada Militar. Um grande abraço a todos os colegas de farda, ex-colegas, familiares e amigos neste luta pela segurança do nosso RS.

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