quarta-feira, 24 de agosto de 2011

LEGALIDADE - BRIGADIANOS OCUPAM PONTOS ESTRATÉGICOS ANTES DO EXÉRCITO

LEGALIDADE. O GENERAL QUE FICOU SEM ESCOLHA - DIONE KUHN E NILSON MARIANO, ZERO HORA 24/08/2011

A épica manhã de 28 de agosto de 1961 entrou para a história como o Dia D da Campanha da Legalidade. O dia em que o comandante das forças do III Exército, José Machado Lopes, tomou a decisão de ir ao Palácio Piratini para também defender a posse de João Goulart na Presidência. No entanto, se pudesse, Machado Lopes não teria ido até lá, muito menos apertado a mão do governador Leonel Brizola, menos ainda ido à sacada do Piratini acenar para a população. Só foi porque não tinha escolha.

Aquela segunda-feira que selou a união dos gaúchos em defesa da Constituição, colocando na mesma trincheira soldados do Exército e policiais da Brigada Militar, só ocorreu porque Brizola foi mais rápido.

Jânio Quadros renunciou ao mandato de presidente numa sexta-feira pela manhã, 25 de agosto. Entre a noite daquele dia e a madrugada de sábado, a Brigada tomou os pontos estratégicos da cidade.

O primeiro deles, a Usina do Gasômetro, colocando barricadas de sacos de areia e despejando armas e munições no pátio da Usina. Na manhã do dia 26, Machado Lopes soube que a BM já havia se instalado no terraço do Piratini, na Catedral, em pontos estratégicos da Rua Duque de Caxias, na prefeitura e no Mercado Público. Tudo sob a justificativa de garantir a segurança do governador.

A Avenida Praia de Belas, região onde ficam o 1º e o 9º BPM, também estava bloqueada. Significava que se os tanques do Exército provenientes do regimento localizado no bairro Serraria – que já estavam a caminho – quisessem seguir adiante com a missão de proteger as cercanias do QG, no centro da Capital, teriam de transpor as barreiras impostas pela Brigada.

As horas foram passando, e Brizola deu a cartada final. Na madrugada do dia 27 deslocou brigadianos para a Ilha da Pintada com a missão de proteger o cristal transmissor da Rádio Guaíba. Os equipamentos da emissora àquela altura já haviam sido confiscados e se encontravam no porão do Piratini.

Com a Brigada em pontos estratégicos e uma emissora de rádio à disposição do governador para se comunicar com os gaúchos, não havia mais como Machado Lopes estancar aquele levante que se espalhava por todo o Estado a não ser radicalizando, partindo para um confronto direto com as forças civis e militares lideradas por Brizola.

Até que veio de Brasília o derradeiro recado do ministro da Guerra, Odílio Denys, ao comandante do III Exército: calar Brizola, pondo fim à “ação subversiva”. A ordem, enviada pelo general Orlando Geisel ao QG do III Exército na manhã do dia 28 de agosto, ia além:

“Empregue a Aeronáutica, realizando inclusive bombardeio, se necessário”.

Mas Machado Lopes já estava decidido de que lado ficaria. Em resposta, disparou:

“Cumpro ordens apenas dentro da Constituição vigente”.

Geisel retrucou, mas o general não se encontrava mais na sala de comunicações do QG:

“General Machado Lopes, onde esta ordem é inconstitucional?”

No final da manhã do dia 28, o general se dirigiu ao Piratini. Foi um ato de ousadia do comandante, que naquele momento quebrava a hierarquia militar. Mas a verdade é que Machado Lopes não tinha mais saída: ou transferia seu comando para o Interior, para algum general alinhado à cúpula militar – o que seria uma desmoralização, um ato de covardia – ou se posicionava pelo cumprimento da Constituição.


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