Albeni Carmo de Oliveira - http://www.guapos.com.br
Quando na calada da noite
O silêncio for cortado
Por um pisar compassado
De um ser que, com dedicação,
Zela por todo quarteirão
No rigor das madrugadas,
Talves essas pisadas
Te tragam recordação.
Quando ainda eras pequeno,
Quantas vezes qlguém aludiu:
- Olha, eu te dou para o titio
Se não aprenderes a lição.
Mas depois foste crescendo
E, aos poucos, entendendo
Qual era a minha missão,
Pois às vezes tu olhavas,
Quando o trânsito eu parava
Para te dar proteção.
Recordas de um certo dia,
Quando junto a um amigo
Expuseste tua vida ao perigo?
Chamei-te a atenção,
Tu não ficaste contente,
Pois eras um adolescente
E só queria diversão.
Até me achavas um chato
Que cortava o teu "barato"
Mas eu te dava proteção.
Mas hoje tudo mudou
Inclusive já tens filhos
Que também tem os seus "grilos"
Para dar-te preocupação.
Neste mundo diferente,
Com este progresso crescente
E esta louca agitação,
Tu só ficas sossegado,
Quando me vês ali postado
Para dar-te proteção!
Olha! Eu também envelheci,
Sofri críticas, fui louvado...
E assim como o Estado,
Passei por transformação.
Estou sempre a me atualizar,
Mas não deixei de lutar,
Em prol da justiça e da razão
Plantei minha bandeira,
E desde o litoral até a fronteira
Tu tens a proteção.
Eu também tenho família.
Filhos, esposa e um lar.
Por isso fico a pensar
Como tu, que és cidadão.
Nos rumos da humanidade,
No índice de criminalidade
Que assusta a população.
E assim a cada instante,
Eu me transformo em gigante
Para dar-te proteção!
Por isso quero pedir-te
Que me faças um favor:
- Ensina aos teus o valor
Sa minha árdua missão.
Pois nunca hei de esquecer
O juramento e o dever,
Que fizeram de mim um guardião
Da minha Pátria querida,
Pela qual prometi dar a vida
Para a tua proteção.
Militar Estadual, Centauro da Força Pública, Guerreiro nas Revoluções, Protetor Ambiental, Agente de Saúde, Policial Estadual e integrante da Lendária Brigada Militar do Estado Rio Grande do Sul - Este é o Brigadiano(a)- homens e mulheres a serviço da lei, da justiça, da ordem, do direito, do Povo Gaúcho e da Grande Nação Brasileira
domingo, 28 de agosto de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
O GATE
GATE ::: Grupo de Ações Táticas Especiais da Brigada Militar do RS - 18/03/2009
Policias super treinados para arriscar a própria vida para salvar outras, abnegados, trabalham com o próprio medo conseguindo controlá-lo. Grupo formado para salvar a polícia militar quando está precisando de ajuda.
Trabalham quando há reféns ou quando é uma operação muito arriscada, exigindo muita técnica e experiência, dou meus parabéns para estes homens e tbm para a Brigada Militar, por proteger seu estado com policias treinados e aptos para fazer o serviço.
Vale a pena conferir esse vídeo e ver do que esses policias são capazes.
O PIOR SALÁRIO PM DO BRASIL NUM ESTADO PRÓSPERO
O RIO GRANDE DO SUL TEM ÓTIMOS INDICADORES SOCIAIS COMPARADOS COM OS DEMAIS ESTADOS, BAIXA TAXA DE DESEMPREGO E DE MORTALIDADE INFANTIL, MAS OS SALÁRIOS DOS POLICIAIS MILITARES NÃO ACOMPANHAM ESTES ÍNDICES. REDE RECORD.
FAMÍLIA BRIGADIANA
Reportagem desenvolvida para o programa "Quebra-Cabeça", tarefa de Grau B da disciplina de Telejornalismo III do curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. 17/12/2008
Duração: 7 minutos e 25 segundos
Participaram desta reportagem Alessandra Riete, Cristiano Martins, Gustavo Alencastro, Luci Ani Gröschel, Natacha Souza, Pedro Bicca, Rafael Martins, Taís Hatzenberger, Tárlis Schneider, Théo Knetig.
Duração: 7 minutos e 25 segundos
Participaram desta reportagem Alessandra Riete, Cristiano Martins, Gustavo Alencastro, Luci Ani Gröschel, Natacha Souza, Pedro Bicca, Rafael Martins, Taís Hatzenberger, Tárlis Schneider, Théo Knetig.
LEGALIDADE 50 ANOS - RBS TV
Legalidade 50 anos - Programa 1 - RBS TV - 10/08/2011
Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renuncia ao cargo de Presidente, enquanto João Goulart, vice-presidente, está em visita à China. O Brasil vive momentos de instabilidade nunca vista. Os militares, que temem ver no Brasil um governo de esquerda impedem o vice-presidente de assumir o cargo como mandava a lei. Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, inicia um movimento de resistência, pregando a legalidade, ou seja, a posse de Jango. Brizola fala ao povo pela rádio e inicia o movimento denominado a Rede da Legalidade. Transmitidos a partir de um estúdio montado no porão do palácio, os programas da legalidade alcançavam ouvintes, até mesmo em outros estados.
Legalidade 50 anos - Programa 2 - RBS TV - 13/08/201
Após a renúncia de Jânio Quadros, os militares tentam impedir João Goulart de assumir a presidência do Brasil. Como os militares não cedem e Brizola também não, a situação fica grave. Brizola se entrichera no Palácio Piratini, em Porto Alegre, ele mobiliza a Brigada Militar e distribuiu armas para a população resistir. Paralelamente, era negociada uma solução política para evitar uma crise maior no Congresso Nacional. Em 2 de setembro é aprovada uma emenda constitucional, alterando o regime de governo para o parlamentarismo. Com os poderes de Jango limitados a de chefe de estado e não de governo, os militares aceitam a posse do cargo de Presidente da República. Em setembro, João Goulart retorna ao Brasil, tomando posse em 7 de setembro de 1961.
Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renuncia ao cargo de Presidente, enquanto João Goulart, vice-presidente, está em visita à China. O Brasil vive momentos de instabilidade nunca vista. Os militares, que temem ver no Brasil um governo de esquerda impedem o vice-presidente de assumir o cargo como mandava a lei. Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, inicia um movimento de resistência, pregando a legalidade, ou seja, a posse de Jango. Brizola fala ao povo pela rádio e inicia o movimento denominado a Rede da Legalidade. Transmitidos a partir de um estúdio montado no porão do palácio, os programas da legalidade alcançavam ouvintes, até mesmo em outros estados.
Legalidade 50 anos - Programa 2 - RBS TV - 13/08/201
Após a renúncia de Jânio Quadros, os militares tentam impedir João Goulart de assumir a presidência do Brasil. Como os militares não cedem e Brizola também não, a situação fica grave. Brizola se entrichera no Palácio Piratini, em Porto Alegre, ele mobiliza a Brigada Militar e distribuiu armas para a população resistir. Paralelamente, era negociada uma solução política para evitar uma crise maior no Congresso Nacional. Em 2 de setembro é aprovada uma emenda constitucional, alterando o regime de governo para o parlamentarismo. Com os poderes de Jango limitados a de chefe de estado e não de governo, os militares aceitam a posse do cargo de Presidente da República. Em setembro, João Goulart retorna ao Brasil, tomando posse em 7 de setembro de 1961.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
TRIGÊMEOS BRIGADIANOS
PM ganha presente triplo no aniversário. Sargento percebeu durante a ecografia que a mulher esperava trigêmeos - CORREIO DO POVO, PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2011
O maior presente de aniversário. Assim o sargento da Brigada Militar Edgar Ricardo da Silva, 33 anos, classificou a chegada dos trigêmeos, Murilo, Vitor e Cássio. Casado com a soldado Rita de Cássia Duarte Gomes, 29, o casal já tinha um garoto, Lucas, 10 anos, fruto do primeiro casamento do sargento. Se a alegria foi triplicada com a chegada dos garotos, no dia 18 de maio, as mudanças de vida e as preocupações também foram multiplicadas por três.
Faltou, já no começo, enxoval suficiente, fraldas e leite em pó Nam, especial para recém-nascidos. Rita trocou a rotina do policiamento ostensivo pelas trocas de fraldas. A mão que antes manejava até uma arma de fogo, agora só acaricia.
Ricardo, como é conhecido no 9 BPM de Porto Alegre, onde atua no Pelotão de Operações Especiais (POE), lembra do dia em que levou a mulher para fazer uma ecografia. Em determinado momento, ele percebeu ter três bebês e não dois, como até então o casal pensava que era. "Falei para Rita que eram três, mas ela não acreditou", relembra. "O médico me disse para ficar quieto, senão eu seria retirado da sala", recorda o sargento, afirmando que só no final do exame veio a confirmação: são três.
Na primeira ecografia apareceram apenas duas crianças. O casal estava contente mas "meio apavorado", relata. "Não é fácil criar três bebês, com tudo o que acarreta", disse a soldado, que também trabalha no POE do 9 BPM. "Eu me preocupo muito até em função do nosso trabalho", afirma Rita. Os bebês nasceram com 1,9 kg (Murilo), 1,54 kg (Vitor) e 1,56 kg (Cássio).
A soldado pensa em ser transferida para o setor administrativo quando voltar à ativa. "O policiamento ostensivo toma muito tempo, além de ser perigoso. Agora eu tenho que pensar nessa grande família", diz. Os bebês já estão na fila para vagas na creche da Brigada Militar.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A NOSSA HOMENAGEM AOS PAIS E A TODAS AS FAMÍLIAS BRIGADIANAS.
REMEMORAÇÕES DE UM FILHO DE BRIGADIANO
REMEMORAÇÕES - PAULO SANT’ANA - ZERO HORA, 20 de agosto de 2011 | N° 16798
Estava recordando anteontem as várias formas que usei para arranjar dinheiro quando guri.
Vendia garrafas. Cruzava um ferro-velho de carroça pela minha casa, e eu passava nos cobres as garrafas que meu pai juntava.
Todo o dinheirinho que conseguia tinha a finalidade de comprar uma entrada para a matinê de domingo, no Cine Brasil, Avenida Bento Gonçalves, ou no Cine Miramar, na Avenida Aparício Borges.
E o resto era para comer doces. Quando sobrava algum, tinha eu acesso à maior delícia do mundo: uma lata de leite condensado marca Moça.
E abria a lata furando-a duas vezes, uma para chupar o leite, a outra para entrar o ar e manter o fluxo.
Outra maneira que eu arranjava para buscar trocados era a venda de ossos. Pegava um carrinho com pneus e subia o Morro da Polícia por onde hoje é uma rua muito populosa, a Volta da Cobra, que naquele tempo era uma estrada silvestre de indizível beleza natural.
O nome da estrada se devia a que, em determinada parte de seu trajeto, o que deve acontecer ainda hoje, nas imediações da Vila São José (Coreia), o percurso virava um verdadeiro zigue-zague, serpenteando as grandes árvores cheias de cipós.
Uma selva luxuriante, dentro de Porto Alegre.
Pois eu ia até lá para procurar esqueletos de mamíferos mortos, juntava os ossos e os vendia ao ferro-velho. No dia em que isso acontecia, eu mergulhava num festim de guloseimas.
Mas, para quem é ou foi brigadiano antigo, eu vou recordar um estratagema que os soldados usavam para driblar suas dificuldades financeiras: era o que eles chamavam de “touro”.
Consistia em adquirirem a crédito na “cantina” gêneros de toda espécie e revendê-los à vista no comércio estabelecido de armazéns, evidentemente que a preço de custoso deságio.
Vendo aquilo, descobri uma forma de arrumar dinheiro, eram os jeitos que eu, garotinho imberbe, bolava para arrumar recursos.
Comprava na conta de meu pai no quartel e revendia. Quando, no fim do mês, na data do pagamento do soldo, meu pai descobria, então eu sofria dolorosas surras de cinta dele.
Quando uma criança não ganha mesada, tem de ter muita imaginação para arrumar dinheiro.
Nunca me esqueço do dia em que fiz um “touro” para poder assistir ao badalado filme colorido Sansão e Dalila, com Victor Mature e Hedy Lamarr. Outra vez, foi para assistir ao épico Gunga Din, que ficou cravado para sempre em minha memória.
Assistir aos circos que vez por outra armavam suas lonas no Partenon e na Vila Santa Maria, no entanto, nunca me custou nada: eu tinha uma técnica muito esperta para “furar” os circos, sempre por baixo da lona estendida, sempre depois de já ter começado o espetáculo.
Dias de glória e de felicidade arteiras os da minha infância. Dias de folguedos, de brincadeiras, de aventuras.
Nem de leve me assaltava o espírito o medo do futuro, de como iria eu resolver o meu sustento, o que só agora sei o quanto foi sacrificado.
Mas é que a gente passa pela infância como se fosse por um sonho, como se ela não tivesse existido, tanta era a inocência e a pureza das nossas intenções.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Muito bom este texto. Como sou filho de brigadiano, lembra a minha infância, os bons momentos e as dificuldades. Porém peço escusas ao autor e aos tricolores pela ilustração com a camiseta do meu time - o Internacional de Porto Alegre, o Campeão de Tudo. É por invejar a torcida do tricolor em ter na sua torcida uma pessoa deste quilate - sábio, lutador e visionário.
LEGALIDADE - BRIGADA MAIS ÁGIL QUE O EXÉRCITO
LEGALIDADE. SE HOUVESSE CONFRONTO, A MAIORIA DESERTARIA - DIONE KUHN e NILSON MARIANO, ZERO HORA 24/08/2011
O III Exército não tinha um plano de segurança preventivo, traçado por escrito para fazer frente aos policiais do Estado que haviam tomado os pontos estratégicos do centro de Porto Alegre. Foi tudo de improviso e às pressas. O clima no quartel-general era de tensão. O chefe do Estado-Maior, general Antônio Carlos Muricy, não escondia sua irritação com o fato de a Brigada Militar ter sido mais ágil em relação ao Exército. Não bastasse isso, os discursos cada vez mais inflamados de Leonel Brizola começavam a interferir no emocional das tropas.
Pelo menos oito jovens oficiais e quatro sargentos tiveram de ser recolhidos para o 18º Regimento de Infantaria por manifestarem simpatia pelo governador. Diante da escassez de oficiais, coube a Nelcy Nazzari, 21 anos, cabo da Cia. do QG do III Exército, assumir o comando do 3º pelotão. O cabo Nazzari e os soldados tomaram três prédios na Rua Riachuelo, esquina com a General Portinho: o Instituto Imaculado Coração de Maria, à época um colégio de preparação de freiras, o terraço do edifício Itajubá – onde foram instaladas metralhadoras .50 – e uma oficina mecânica. Por estar numa região elevada, ficava fácil monitorar os passos da Brigada Militar.
As noviças do instituto foram transferidas para a sede de Gravataí, a fim de que parte do prédio ficasse à disposição do pelotão de Nazzari. Para o porão foram levadas armas, munições e mantimentos. Apesar da preocupação constante de um ataque, dentro da congregação o clima era amenizado graças à gentileza da diretora do instituto, Maria Imilda Giordani.
Todos os finais de tarde, após seu retiro espiritual, a madre superiora mandava uma irmã auxiliar distribuir ao grupo cesta com bolinhos salgados e pedaços de cuca. Até santinhos com a imagem da irmã Bárbara Maix, fundadora da congregação, chegaram às mãos dos soldados. No verso, uma mensagem: “Tenham fé! Nada vai acontecer de ruim. Rezo por vocês!”
Apesar de proibido, alguns soldados mantinham aparelhos de rádio escondidos para acompanhar as manifestações de Brizola. Não demorou para surgirem os primeiros sinais de insubordinação. Nazzari lembra que a certa altura passaram a ser frequentes entre os soldados perguntas como “o que estamos fazendo aqui”? e “quem realmente são nossos inimigos?
– Havia no 3º pelotão dois soldados cujos pais eram coronéis da Brigada Militar em Porto Alegre. Em caso de confronto, poderia acontecer que pai e filho, em lados opostos, fossem levados a atirar um contra o outro – observa Nazzari, hoje com 71 anos, advogado radicado há cinco décadas em São Paulo.
Além de o Exército estar em desvantagem em relação à Brigada, um dos fatores que pesaram na decisão do general José Machado Lopes de se aliar ao Movimento da Legalidade foi o fato de o moral da tropa indicar, por meio de uma pesquisa, que se tivessem de ir para o confronto a maioria desertaria ou passaria para o outro lado.
O dia 28 de agosto foi de alívio.
– Bastou um soldado nosso acenar uma toalha branca em direção às bases ‘inimigas’ para o pessoal da Brigada Militar sair de seus esconderijos, esfregando as mãos de alegria, indo ao nosso encontro para abraços e confraternização – lembra Nazzari.
O advogado ainda ficou de prontidão até o dia 9 de setembro, quando finalmente o Instituto Imaculado Coração de Maria foi desocupado pelo 3º pelotão. Dias depois, Nazzari mandou uma carta aos familiares que residiam no Interior:
“Hoje, com grande prazer, quero dar boas notícias minhas. Depois de passar 15 dias de grande expectativa, voltou a reinar a calma em Porto Alegre (...).”
O cabo que viu Cordeiro de Farias chegar
O ex-cabo Marcial Ribeiro (ao lado), hoje com 80 anos, é uma da raras testemunhas que viu na noite de 29 de agosto de 1961, por volta das 22h30min, o general Cordeiro de Farias aterrissar na Base Aérea de Canoas, com a missão de assumir o III Exército no lugar de Machado Lopes, àquela altura destituído do comando por ordem do ministro da Guerra, Odílio Denys, por ter se posicionado em defesa da Legalidade.
Machado Lopes já havia respondido à cúpula militar que prenderia o substituto tão logo pisasse em solo gaúcho. A permanência de Cordeiro de Farias foi rápida, sequer o jatinho Paris pôde sair da cabeceira da pista.
O general foi avisado pelo oficial de operações, tenente Stolzman, de que não poderia desembarcar sob pena de ser preso. Incumbido da tarefa de abastecer o avião, Marcial acompanhou o desenrolar da conversa, que durou poucos minutos.
A Base Aérea estava em rebelião, a hierarquia quebrada. No dia anterior, um grupo de sargentos e suboficiais sabotara os caças Gloster Meteor, impedindo que decolassem com o objetivo de calar Brizola.
– O tenente não deixou o general sair do avião. Sugeriu que ele desembarcasse no Aeroporto Salgado Filho, onde provavelmente seria preso pelas forças de Machado Lopes – conta Marcial, morador do município de Arroio Grande.
Cordeiro de Farias esperava ser recebido na Base Aérea por um oficial alinhado aos ministros militares, mas não havia ninguém. Retornou ao Rio de Janeiro logo depois de abastecido o avião.
No dia 7 de setembro, o da posse de Jango, soldados, cabos e sargentos comemoraram durante almoço a volta da normalidade. Dois meses depois, Marcial começou a ser perseguido por oficiais anti-legalistas. Foi abrigado a deixar a Base, pondo fim à carreira militar.
O III Exército não tinha um plano de segurança preventivo, traçado por escrito para fazer frente aos policiais do Estado que haviam tomado os pontos estratégicos do centro de Porto Alegre. Foi tudo de improviso e às pressas. O clima no quartel-general era de tensão. O chefe do Estado-Maior, general Antônio Carlos Muricy, não escondia sua irritação com o fato de a Brigada Militar ter sido mais ágil em relação ao Exército. Não bastasse isso, os discursos cada vez mais inflamados de Leonel Brizola começavam a interferir no emocional das tropas.
Pelo menos oito jovens oficiais e quatro sargentos tiveram de ser recolhidos para o 18º Regimento de Infantaria por manifestarem simpatia pelo governador. Diante da escassez de oficiais, coube a Nelcy Nazzari, 21 anos, cabo da Cia. do QG do III Exército, assumir o comando do 3º pelotão. O cabo Nazzari e os soldados tomaram três prédios na Rua Riachuelo, esquina com a General Portinho: o Instituto Imaculado Coração de Maria, à época um colégio de preparação de freiras, o terraço do edifício Itajubá – onde foram instaladas metralhadoras .50 – e uma oficina mecânica. Por estar numa região elevada, ficava fácil monitorar os passos da Brigada Militar.
As noviças do instituto foram transferidas para a sede de Gravataí, a fim de que parte do prédio ficasse à disposição do pelotão de Nazzari. Para o porão foram levadas armas, munições e mantimentos. Apesar da preocupação constante de um ataque, dentro da congregação o clima era amenizado graças à gentileza da diretora do instituto, Maria Imilda Giordani.
Todos os finais de tarde, após seu retiro espiritual, a madre superiora mandava uma irmã auxiliar distribuir ao grupo cesta com bolinhos salgados e pedaços de cuca. Até santinhos com a imagem da irmã Bárbara Maix, fundadora da congregação, chegaram às mãos dos soldados. No verso, uma mensagem: “Tenham fé! Nada vai acontecer de ruim. Rezo por vocês!”
Apesar de proibido, alguns soldados mantinham aparelhos de rádio escondidos para acompanhar as manifestações de Brizola. Não demorou para surgirem os primeiros sinais de insubordinação. Nazzari lembra que a certa altura passaram a ser frequentes entre os soldados perguntas como “o que estamos fazendo aqui”? e “quem realmente são nossos inimigos?
– Havia no 3º pelotão dois soldados cujos pais eram coronéis da Brigada Militar em Porto Alegre. Em caso de confronto, poderia acontecer que pai e filho, em lados opostos, fossem levados a atirar um contra o outro – observa Nazzari, hoje com 71 anos, advogado radicado há cinco décadas em São Paulo.
Além de o Exército estar em desvantagem em relação à Brigada, um dos fatores que pesaram na decisão do general José Machado Lopes de se aliar ao Movimento da Legalidade foi o fato de o moral da tropa indicar, por meio de uma pesquisa, que se tivessem de ir para o confronto a maioria desertaria ou passaria para o outro lado.
O dia 28 de agosto foi de alívio.
– Bastou um soldado nosso acenar uma toalha branca em direção às bases ‘inimigas’ para o pessoal da Brigada Militar sair de seus esconderijos, esfregando as mãos de alegria, indo ao nosso encontro para abraços e confraternização – lembra Nazzari.
O advogado ainda ficou de prontidão até o dia 9 de setembro, quando finalmente o Instituto Imaculado Coração de Maria foi desocupado pelo 3º pelotão. Dias depois, Nazzari mandou uma carta aos familiares que residiam no Interior:
“Hoje, com grande prazer, quero dar boas notícias minhas. Depois de passar 15 dias de grande expectativa, voltou a reinar a calma em Porto Alegre (...).”
O cabo que viu Cordeiro de Farias chegar
O ex-cabo Marcial Ribeiro (ao lado), hoje com 80 anos, é uma da raras testemunhas que viu na noite de 29 de agosto de 1961, por volta das 22h30min, o general Cordeiro de Farias aterrissar na Base Aérea de Canoas, com a missão de assumir o III Exército no lugar de Machado Lopes, àquela altura destituído do comando por ordem do ministro da Guerra, Odílio Denys, por ter se posicionado em defesa da Legalidade.
Machado Lopes já havia respondido à cúpula militar que prenderia o substituto tão logo pisasse em solo gaúcho. A permanência de Cordeiro de Farias foi rápida, sequer o jatinho Paris pôde sair da cabeceira da pista.
O general foi avisado pelo oficial de operações, tenente Stolzman, de que não poderia desembarcar sob pena de ser preso. Incumbido da tarefa de abastecer o avião, Marcial acompanhou o desenrolar da conversa, que durou poucos minutos.
A Base Aérea estava em rebelião, a hierarquia quebrada. No dia anterior, um grupo de sargentos e suboficiais sabotara os caças Gloster Meteor, impedindo que decolassem com o objetivo de calar Brizola.
– O tenente não deixou o general sair do avião. Sugeriu que ele desembarcasse no Aeroporto Salgado Filho, onde provavelmente seria preso pelas forças de Machado Lopes – conta Marcial, morador do município de Arroio Grande.
Cordeiro de Farias esperava ser recebido na Base Aérea por um oficial alinhado aos ministros militares, mas não havia ninguém. Retornou ao Rio de Janeiro logo depois de abastecido o avião.
No dia 7 de setembro, o da posse de Jango, soldados, cabos e sargentos comemoraram durante almoço a volta da normalidade. Dois meses depois, Marcial começou a ser perseguido por oficiais anti-legalistas. Foi abrigado a deixar a Base, pondo fim à carreira militar.
LEGALIDADE - BRIGADIANOS OCUPAM PONTOS ESTRATÉGICOS ANTES DO EXÉRCITO
LEGALIDADE. O GENERAL QUE FICOU SEM ESCOLHA - DIONE KUHN E NILSON MARIANO, ZERO HORA 24/08/2011
A épica manhã de 28 de agosto de 1961 entrou para a história como o Dia D da Campanha da Legalidade. O dia em que o comandante das forças do III Exército, José Machado Lopes, tomou a decisão de ir ao Palácio Piratini para também defender a posse de João Goulart na Presidência. No entanto, se pudesse, Machado Lopes não teria ido até lá, muito menos apertado a mão do governador Leonel Brizola, menos ainda ido à sacada do Piratini acenar para a população. Só foi porque não tinha escolha.
Aquela segunda-feira que selou a união dos gaúchos em defesa da Constituição, colocando na mesma trincheira soldados do Exército e policiais da Brigada Militar, só ocorreu porque Brizola foi mais rápido.
Jânio Quadros renunciou ao mandato de presidente numa sexta-feira pela manhã, 25 de agosto. Entre a noite daquele dia e a madrugada de sábado, a Brigada tomou os pontos estratégicos da cidade.
O primeiro deles, a Usina do Gasômetro, colocando barricadas de sacos de areia e despejando armas e munições no pátio da Usina. Na manhã do dia 26, Machado Lopes soube que a BM já havia se instalado no terraço do Piratini, na Catedral, em pontos estratégicos da Rua Duque de Caxias, na prefeitura e no Mercado Público. Tudo sob a justificativa de garantir a segurança do governador.
A Avenida Praia de Belas, região onde ficam o 1º e o 9º BPM, também estava bloqueada. Significava que se os tanques do Exército provenientes do regimento localizado no bairro Serraria – que já estavam a caminho – quisessem seguir adiante com a missão de proteger as cercanias do QG, no centro da Capital, teriam de transpor as barreiras impostas pela Brigada.
As horas foram passando, e Brizola deu a cartada final. Na madrugada do dia 27 deslocou brigadianos para a Ilha da Pintada com a missão de proteger o cristal transmissor da Rádio Guaíba. Os equipamentos da emissora àquela altura já haviam sido confiscados e se encontravam no porão do Piratini.
Com a Brigada em pontos estratégicos e uma emissora de rádio à disposição do governador para se comunicar com os gaúchos, não havia mais como Machado Lopes estancar aquele levante que se espalhava por todo o Estado a não ser radicalizando, partindo para um confronto direto com as forças civis e militares lideradas por Brizola.
Até que veio de Brasília o derradeiro recado do ministro da Guerra, Odílio Denys, ao comandante do III Exército: calar Brizola, pondo fim à “ação subversiva”. A ordem, enviada pelo general Orlando Geisel ao QG do III Exército na manhã do dia 28 de agosto, ia além:
“Empregue a Aeronáutica, realizando inclusive bombardeio, se necessário”.
Mas Machado Lopes já estava decidido de que lado ficaria. Em resposta, disparou:
“Cumpro ordens apenas dentro da Constituição vigente”.
Geisel retrucou, mas o general não se encontrava mais na sala de comunicações do QG:
“General Machado Lopes, onde esta ordem é inconstitucional?”
No final da manhã do dia 28, o general se dirigiu ao Piratini. Foi um ato de ousadia do comandante, que naquele momento quebrava a hierarquia militar. Mas a verdade é que Machado Lopes não tinha mais saída: ou transferia seu comando para o Interior, para algum general alinhado à cúpula militar – o que seria uma desmoralização, um ato de covardia – ou se posicionava pelo cumprimento da Constituição.
A épica manhã de 28 de agosto de 1961 entrou para a história como o Dia D da Campanha da Legalidade. O dia em que o comandante das forças do III Exército, José Machado Lopes, tomou a decisão de ir ao Palácio Piratini para também defender a posse de João Goulart na Presidência. No entanto, se pudesse, Machado Lopes não teria ido até lá, muito menos apertado a mão do governador Leonel Brizola, menos ainda ido à sacada do Piratini acenar para a população. Só foi porque não tinha escolha.
Aquela segunda-feira que selou a união dos gaúchos em defesa da Constituição, colocando na mesma trincheira soldados do Exército e policiais da Brigada Militar, só ocorreu porque Brizola foi mais rápido.
Jânio Quadros renunciou ao mandato de presidente numa sexta-feira pela manhã, 25 de agosto. Entre a noite daquele dia e a madrugada de sábado, a Brigada tomou os pontos estratégicos da cidade.
O primeiro deles, a Usina do Gasômetro, colocando barricadas de sacos de areia e despejando armas e munições no pátio da Usina. Na manhã do dia 26, Machado Lopes soube que a BM já havia se instalado no terraço do Piratini, na Catedral, em pontos estratégicos da Rua Duque de Caxias, na prefeitura e no Mercado Público. Tudo sob a justificativa de garantir a segurança do governador.
A Avenida Praia de Belas, região onde ficam o 1º e o 9º BPM, também estava bloqueada. Significava que se os tanques do Exército provenientes do regimento localizado no bairro Serraria – que já estavam a caminho – quisessem seguir adiante com a missão de proteger as cercanias do QG, no centro da Capital, teriam de transpor as barreiras impostas pela Brigada.
As horas foram passando, e Brizola deu a cartada final. Na madrugada do dia 27 deslocou brigadianos para a Ilha da Pintada com a missão de proteger o cristal transmissor da Rádio Guaíba. Os equipamentos da emissora àquela altura já haviam sido confiscados e se encontravam no porão do Piratini.
Com a Brigada em pontos estratégicos e uma emissora de rádio à disposição do governador para se comunicar com os gaúchos, não havia mais como Machado Lopes estancar aquele levante que se espalhava por todo o Estado a não ser radicalizando, partindo para um confronto direto com as forças civis e militares lideradas por Brizola.
Até que veio de Brasília o derradeiro recado do ministro da Guerra, Odílio Denys, ao comandante do III Exército: calar Brizola, pondo fim à “ação subversiva”. A ordem, enviada pelo general Orlando Geisel ao QG do III Exército na manhã do dia 28 de agosto, ia além:
“Empregue a Aeronáutica, realizando inclusive bombardeio, se necessário”.
Mas Machado Lopes já estava decidido de que lado ficaria. Em resposta, disparou:
“Cumpro ordens apenas dentro da Constituição vigente”.
Geisel retrucou, mas o general não se encontrava mais na sala de comunicações do QG:
“General Machado Lopes, onde esta ordem é inconstitucional?”
No final da manhã do dia 28, o general se dirigiu ao Piratini. Foi um ato de ousadia do comandante, que naquele momento quebrava a hierarquia militar. Mas a verdade é que Machado Lopes não tinha mais saída: ou transferia seu comando para o Interior, para algum general alinhado à cúpula militar – o que seria uma desmoralização, um ato de covardia – ou se posicionava pelo cumprimento da Constituição.
domingo, 21 de agosto de 2011
O TREM DA LEGALIDADE
LEGALIDADE - DIONE KUHN E NILSON MARIANO, ZERO HORA 21/08/2011
Sete veteranos que combateram no Trem da Legalidade se perfilam diante da estação ferroviária de Santiago, 50 anos depois, para relembrar uma façanha. Peito estufado, uma centelha no olhar pela missão cumprida, orgulham-se de ter pego em armas para defender a posse de João Goulart na Presidência da República. Mas eles também se reúnem junto aos trilhos desgastados pelo tempo, sob a inclemência do inverno gaúcho, para revelar uma verdade que ficou adormecida desde 1961: o comboio em que viajavam não chegou ao destino. Em uma série de reportagens que se inicia neste domingo e vai até quinta-feira, ZH fará revelações sobre o Movimento da Legalidade e revisará versões consagradas como fatos.
O Trem da Legalidade é um dos episódios que compõem a campanha liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para garantir que João Goulart assumisse a Presidência a partir da renúncia de Jânio Quadros, ocorrida em 25 de agosto de 1961. No levante para fazer prevalecer a Constituição e derrubar o veto da cúpula militar a Goulart – o vice-presidente legitimamente eleito –, Brizola mobilizou a população, uma cadeia de rádios e tropas armadas. Evitou um golpe de Estado, o qual se consumaria três anos depois.
Parte dos soldados que ajudaram a triunfar a última insurreição gaúcha embarcou no Trem da Legalidade. Era o comboio oficial, patrocinado pelo Estado, e partiu de Santiago em 2 de setembro de 1961. Brizola sustentava que a composição fora até Ourinhos (SP), arrebanhando multidões numa jornada épica de 2,4 mil quilômetros – ida e volta. Isso foi repetido em livros, discursos e sites. Entrou nos anais do Congresso e na história como verdade.
Mas não foi bem assim que aconteceu. O mérito dos pracinhas do Trem da Legalidade é perpétuo: foram bravos e patriotas. No entanto, ele não concluiu o traçado previsto, sequer entrou na vizinha Santa Catarina. Ficou em Marcelino Ramos, o último ramal ferroviário rio-grandense, de onde retornou quando a situação política se normalizou. Se outra locomotiva seguiu adiante, foi de forma isolada, não teve relevância.
É certo que outras forças brizolistas penetraram em território catarinense, mas por via rodoviária, e chegaram a Lages, Araranguá e Criciúma. O Trem da Legalidade, não. Os próprios tripulantes esclarecem que a ordem era ir até Ourinhos (SP) ou, no mínimo, a Ponta Grossa (PR), mas a expedição terminou às margens do Rio Uruguai, a 696 quilômetros da gare de Santiago.
– Não fomos adiante – garante o ex-cabo Alceu Nicola, hoje com 70 anos e empresário.
ZH refez a rota do Trem da Legalidade, de Santiago a Ourinhos. O que os combatentes gaúchos informam é confirmado por ex-ferroviários, ex-prefeitos, políticos, jornalistas e moradores das cidades que abrigavam estações ferroviárias. Consultados, historiadores e professores universitários também não viram a composição sair do Rio Grande do Sul.
O comboio foi iniciativa do comandante da 1ª Divisão de Cavalaria do Exército, general Oromar Osório, de Santiago. O governador Brizola disponibilizou 11 trens – cada um dotado de locomotiva e vagões. Transportavam soldados (os testemunhos convergem para cerca de 400 homens), armas, metralhadoras e baterias antiaéreas. O objetivo era dominar a linha férrea Rio Grande do Sul-São Paulo, então a principal via da região.
A estratégia do Trem era dupla: proteger e avançar. Temia-se que o Estado fosse invadido por tropas federais que foram enviadas para Santa Catarina. Um comboio antilegalidade, mais poderoso que o gaúcho, procedia de São Paulo com “a tropa de elite do nosso Exército”, conforme divulgou A Gazeta, de Florianópolis.
Os dois comboios não se enfrentaram. Se tivesse rumado até Ourinhos, como o planejado, o Trem da Legalidade deveria atrair catarinenses, paranaenses e paulistas à causa. Veículo de guerra e de propaganda, também espalhava um simbolismo pelo apito das suas locomotivas: repetir a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas foi de trem até Itararé (SP) para depor o presidente Washington Luís. Ourinhos e Itararé são próximas.
Brizola comparava a incursão ao sul do país à manobra do general norte-americano George Patton, que durante a II Guerra Mundial varreu a Europa libertando nações dominadas por Hitler. É um exagero que se atribui ao líder trabalhista, morto em 2004, aos 82 anos. Os soldados do Trem da Legalidade não dispararam um só tiro. No entanto, pelo menos três morreram, devido a acidentes. Uma das vítimas foi um cozinheiro, cujo fogão que manejava explodiu no acampamento de Marcelino Ramos.
Ficamos em Marcelinho Ramos
Os refrões do Hino Nacional insuflavam coragem e patriotismo quando o cabo do Grupo de Artilharia a Cavalo (GAC) Alceu Pedro Nicola embarcou no Trem da Legalidade naquele setembro de 1961. Ao se despedir do povo na estação ferroviária de Santiago, acreditava que iria para o front.
O mosquetão e a pistola azeitados, Nicola, 20 anos, tentava disfarçar a emoção com a seriedade que o momento impunha. Sobrava destemor, mas admite que uma pontinha de receio lhe corroía em relação ao futuro. As ordens do comandante da 1ª Divisão de Cavalaria (DC), general Oromar Osório, eram claras: a tropa deveria marchar até Ourinhos pronta para tudo. A preocupação do pai, Atílio, e a aflição chorosa da mãe, dona Agrícola, ampliavam a gravidade.
– Era como se fôssemos para a guerra. Mas ficamos em Marcelino Ramos – lembra ele.
A mesma convicção bélica embalava os demais combatentes. O cabo Alfeu Corrêa, 25 anos, estava certo de que teria de puxar o gatilho contra outros brasileiros. Acomodado em um vagão de carga, martelava-lhe a determinação recebida:
– Só nos disseram que era para lutar contra o I Exército.
O sargento João Sady Brasil Colpo, à época com 29 anos, recorda os mimos que o Trem da Legalidade recebia nas estações pelo Rio Grande do Sul. Estudantes se aglomeravam, famílias ofereciam doces, roupas e cigarros – que todo soldado gostava de pitar –, mocinhas acenavam lenços coloridos.
– A recepção foi extraordinária, havia gente que chorava de emoção – conta João Sady.
O soldado Jorge Damian tinha apenas 18 anos, mas não se assustou. O cabo Alberto Guedes, 24 anos, era o armeiro: cuidava dos canhões, da bateria antiaérea e de 140 mosquetões. O sargento Wilmar Donini, 35 anos, coordenava as comunicações e gravou a advertência do comandante do trem, major Nilton Della Nina Quites:
– Guerra é guerra, velho!
O comboio não seguiu em bloco. Um dos trens ficou no 4º Regimento de Cavalaria, em Passo Fundo. Na viagem, o sargento Constantino Zaboetzki, 23 anos, sentiu falta do rádio Invictus pelo qual acompanhava os discursos de Brizola na Cadeia da Legalidade. Na locomotiva da ponta, um sargento podia ser visto por populares empunhando uma metralhadora de tripé.
Havia pelo menos um civil na tropa. Nilton da Silva Soares servia lanches e bebidas no Café Ponche Verde, em Santiago, quando apareceu um cliente apressado. Estranhando a ansiedade do freguês, um pracinha que antes se demorava nas conversas de balcão, perguntou o motivo da urgência.
– Mas tu não sabes?! Estourou uma guerra!
O garçom, então com 23 anos, não titubeou. Largou a bandeja com os copos, secou as mãos no avental, pegou o revólver em casa e se apresentou. O dono do Ponche Verde tentou dissuadi-lo. Em vão. Os pais rogaram que ficasse. Nada o demoveu.
– Seria uma covardia deixar os amigos brigarem solitos – diz.
O garçom viu dois desertores saltarem do trem, com medo da batalha. Ele permaneceu firme, até achou divertida a jornada. Um dos raros contratempos ocorreu em Santa Maria, quando a locomotiva resfolgou numa subida, pateou como um boi sem forças. A estratégia de jogar areia nos trilhos, para aumentar a aderência, garantiu a retomada da viagem.
– Sou o único voluntário civil – orgulha-se Nilton.
Antes de o Trem da Legalidade partir, a 1ª DC já enviava soldados ao Norte do Estado. Em 31 de agosto de 1961, aos 35 anos, o sargento Joaquim João Dória de Lemos embarcou de ônibus com sua mochila de combate. Ficou aquartelado em Passo Fundo, aguardando instruções, e de lá voltou. Como todos, não deu um tiro.
Passo Fundo recepcionou com foguetório
Nas estações por onde apitou, no trecho gaúcho entre Santiago e Marcelino Ramos, o Trem da Legalidade arrastou multidões e despejou a fumaça do civismo sobre as cidades. Em Passo Fundo, moradores esperaram os soldados com foguetório e bandinha, além de farta distribuição de chocolate e cigarros das marcas Elmo, Belmont.
O ferroviário Valentim Jesus Viana de Oliveira estava de folga, mas compareceu à estação passo-fundense para recepcionar os legalistas e ajudar no êxito da excursão. Nenhuma composição chegava, passava ou saía sem a autorização dos ferroviários. Eles estavam alertas sobretudo contra eventuais sabotadores.
– Mas tudo correu bem, foi uma coisa linda – diz Valentim, hoje com 82 anos.
Passo Fundo não apenas recepcionou, também engrossou o Trem da Legalidade. Valentim lembra que a Locomotiva 800, conduzida pelo maquinista Astério Pereira de Oliveira, arrancou chispas dos trilhos puxando vagões com militares. Foguista, Valentim cogitou ir junto, mas Astério já tinha quem abastecesse a fornalha com lenha e carvão.
Ferroviários como Valentim dedicaram-se à causa da Legalidade e, em 1964, se opuseram ao golpe de Estado que depôs João Goulart. Acautelavam-se especialmente contra os inimigos ocultos, os “bigorrilhos” do PTB, que usavam a máquina do partido para abocanhar mamatas. Foram perseguidos pela ditadura militar. O filho de Valentim, Jorge Antônio, passou em todas as etapas no concurso para maquinista da RFFSA, mas foi reprovado no quesito “sangue”: tinha o DNA de um conspirador.
– A luta que fizemos foi autêntica. Cumpri meus deveres para com os companheiros – conforta-se Valentim, que não abdicou de seus ideais.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
POLÍCIA EM DUAS RODAS
Brigada comemora aquisição de motos - LETÍCIA BARBIERI. Colaborou André Mags - ZERO HORA 19/08/2011
Chamou a atenção de testemunhas um PM que, de moto, embrenhou-se em direção a um Palio que abria fogo no Túnel da Conceição, na entrada da Capital, durante a fuga de um assalto, em 8 de agosto. Mais do que uma demonstração de coragem, a ação só foi possível graças às 100 motos que reforçam o policiamento da Capital – especialmente do Centro – desde o início do mês.
As motos Lander contam com motor 250 cilindradas e iluminação com lâmpadas de led. Cada uma custou R$ 18 mil. Com elas, os PMs andam entre a multidão, sobem e descem escadarias, acompanham motociclistas suspeitos e promovem suas próprias barreiras com motos substituindo cones e viaturas paradas. Perseguições a assaltantes e atendimento a acidentes poderão ser feitos em um tempo muito menor do que se os policiais seguissem de carro.
Das cem motos que foram adquiridas pelo Estado, 60 são para o 9º Batalhão de Polícia Militar, que cobre a região central de Porto Alegre, de ruas lotadas e tortuosas. Mais do que novas conduções, o comandante das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocams), capitão Ederson Trajano Costa, comemora a agilidade com que as ocorrências passaram a ser atendidas.
– Eu tenho 17 anos de serviço e é a primeira vez que vejo cem motos num lote só. É uma mão na roda para nós, um investimento em segurança. Os carros servem para dar encaminhamento da parte se alguém for preso ou socorrido, mas se não precisar levar ninguém, a moto é muito mais ágil – destaca o capitão.
Na região central de Porto Alegre, o número de motos para o policiamento triplicou. Antes, 21 motocicletas estavam à disposição do 9ºBPM. Agora, o número saltou para 60. O resultado é inusitado: hoje, há mais motos disponíveis do que policiais habilitados para dirigi-las. Soldados estão sendo recrutados para o treinamento.
– Não basta só ter a habilitação, é preciso a qualificação para o policiamento com o veículo de emergência – detalha o capitão.
Foram adquiridas pelo Estado 135 motos, além das cem que reforçam a Capital, 35 foram distribuídas para Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Gravataí, Viamão e Guaíba. Para o Interior, foram repassadas 34 motos usadas.
Guerreira de trilhas - RENATO GAVA, Editor da coluna Planeta Moto, no jornal Diário Gaúcho, e colaborador do caderno Sobre Rodas, em ZH
A motocicleta Lander 250cc é uma guerreira bem conhecida de quem gosta de fazer trilhas. Se fosse para patrulhamentos em estrada, seria um fiasco: ela pena para passar de 110 km/h. Mas, na cidade, tem tudo para causar estragos na criminalidade. Sobretudo a punguistas, classe que ataca grandes centros. As duas primeiras marchas do veículo da Yamaha são bem curtas, e o torque, em baixas rotações, a torna muito ágil. Sem dificuldade, supera escadas e buracos grandes desde que o piloto tenha o preparo devido. E consegue realizar, com desenvoltura, as curvas mais fechadas. Outra vantagem é o baixo custo de manutenção, sobretudo se comparado aos carros.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
A SINA DE SER BRIGADIANO
A entrar na Brigada Militar, a pessoa voluntária não vai só vestir uma farda bege bem passada, portar uma pistola ou revolver, dirigir uma viatura equipada, montar um alazão ou acomodar um bastão e algemas na cintura.
Ela vai envergar um passado de valorosos defensores de Porto Alegre, de guerreiros farroupilhas e de centauros da Guerra do Paraguai e das várias revoluções onde a Brigada Militar esteve envolvida devotando suor e sangue de suas tropas, misturados ao choro pela perda de vidas heróis e gritos de vitórias. Decisões tomadas no calor dos fatos colocavam os bravos brigadianos na linha de frente liderados por oficiais arrojados e formados na experiência dos combates contra a falta de ligação, insuficiência de recurso bélico, alimentação precária, atraso dos soldos e maior potencial do inimigo.
Esta mesma farda incorpora o espírito dos muita dedicação e empenho no cumprimento do dever daqueles que lutaram e morreram defendendo ideais de liberdade e legalidade que conduziram um líder caudilho ao palácio do Catete, transformando-o em Presidente da República e bloquearam um movimento golpista para tirar um presidente.
O aba-larga galopando pela pradaria atrás de abigeatários, o capacete do Pedro e Paulo e o bico de pato patrulhando as ruas, e a boina dos grupos especiais em operações de risco retratam mudanças, transições e estratégias que são atualizadas para aproximar a Brigada Militar do cidadão e levar segurança às comunidades das cidades e regiões gaúchas, sempre na vanguarda técnica.
Ao longo do tempo, a Brigada Militar se transformou, passando de guarda cívica para guerreira e de guerreira para polícia. Já esteve no exterior integrando forças da ONU, comandou uma força nacional na sua criação, administra presídios e realiza patrulha ambiental, além de outras atribuições. É uma corporação que jamais renegou qualquer missão, por mais difícil ou onde outras organizações falharam.
Homens e mulheres, voluntários em grande número concorrem todos os anos para se alistar nas fileiras da PM gaúcha, a única policia militar no Brasil que manteve o nome Brigada Militar durante o regime de exceção. Oficiais e Praças aguerridos e dedicados ao povo gaúcho formam uma massa de servidores públicos disciplinados e adestrados que se dedicam a patrulhar as ruas, os campos, as cidades e vilas deste torrão gaúcho, ostentam a farda, o orgulho e a tradição de uma corporação invicta em todos os embates que participou.
Infelizmente, chegaram a cegueira e tempos de abandono. Hoje, o brigadiano é vítima do descaso, do imediatismo partidário, do treinamento precário e da falta de reconhecimento numa profissão considerada uma das mais estressantes do mundo. Uma vítima que, diante da desvalorização salarial, é obrigada a engolir seu orgulho para vender seu tempo de folga e convívio familiar para outro empregador, muitas vezes de idoneidade suspeita, e assim poder alimentar e dar as mínimas condições de sobrevivência e educação para suas famílias.
Ninguém atenta ou se importa com os prejuízos à saúde, com a desmotivação laboral, com o cansaço durante do serviço, com o sono que insiste em adormecer o corpo e com estresse que podem levar um agente policial depressivo à intolerância, à truculência, ao erro, à imperícia e até a sua morte, a morte de um colega ou a morte de um “terceiro”. Para as autoridades políticas, o brigadiano é aquele personagem “a la Garcia” que basta dar ordens e os mínimos recursos que ele já vai cumprindo as tarefas sem contestar ou exigir condições de trabalho. Um dedicado servidor que tira dinheiro do bolso para comprar farda e equipamentos melhores, organizar a gestão, melhorar a técnica empregada e treinar sua perícia. Ainda enxergam o brigadiano como aquele guerreiro das revoluções do século passado que só precisava de uma arma e de um ideal para defender a voz política de seus governantes.
Só que todo este arcabouço de glórias, dedicação exclusiva e heroísmo, reconhecidos e valorizados pelos governantes do passado, nada pesa para os interesses das gerações políticas deste século. Os portadores da tradição gloriosa de uma corporação centenária e de tradição nada significam... politicamente.
Aqui no RS, pagam o pior do Brasil para um policial militar. O foco é imediatista e a política de segurança pública visa apenas o recurso da mobilidade – a viatura. Esquecem que toda tecnologia precisa de pessoas capacitadas, motivadas, adestradas e em plenas condições físicas, emocionais e psicológicas para fazer funcionar com proveito e eficácia. Esquecem o ser humano e profissional do agente policial, dando mais atenção à impessoalidade do atendimento de ocorrências e ações de contenção, em detrimento da necessidade preventiva, objetivo principal de uma polícia ostensiva. Assim, os mortais anjos da guarda, como num passe de mágica, sumiram do contato permanente com o cidadão, das ruas e dos campos onde preveniam os delitos. Sumiram o policial de quarteirão, os postos estratégicos e o postinho da comunidade.
A segurança pública, apesar de ser direito de maior necessidade do povo gaúcho e promessa política carimbada nas campanhas políticas, é apenas figuração numa realidade aonde o crime vem ousando pela crueldade, pela força, pelo poder político, pelo volume financeiro e pelo arsenal bélico que apresenta. O clamor popular diante da insegurança, terror e vidas inocentes não consegue ecoar nos palácios do Executivo, Judiciário e Legislativo. Nas ruas imperam o medo, a impotência, o desrespeito às leis, a desconfiança nas instituições e o descrédito na justiça.
É triste a sina de ser brigadiano e envergar a farda mística de uma corporação bicentenária de tantos serviços prestados à nação e ao povo gaúcho, com moral baixo e soldos aviltados num estado onde há desarmonia, privilégios, negligência e descaso nas questões de justiça e ordem pública, e onde se abandonam os agentes públicos do Executivo, não se aplicam as leis na plenitude, desrespeitam princípios e enfraquecem os instrumentos de coação, justiça e cidadania. Não é a toa que o crime e a violência estão tomando proporções jamais vistas diante de serviços incapacitados e dependentes da coragem e da dedicação samaritana de seus prestadores. E o pior, os tempos são outros. Agora a guerra é suja, sem honra ou glórias.
É com muito orgulho o fato de ser filho de um brigadiano aba-larga que criou sete filhos numa época de crises, mas de bons ventos de apoio, respeito e veneração.
“O serviço de polícia é nobilitante, por que sobre ele repousa a honra e o bem estar da família”. (BG 08/novembro de 1935 referente à Constituição de 29/06 que atribuía à BM o serviço de policiamento no RS)
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