quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

FARDAS EM LUTO

ZERO HORA 21 de fevereiro de 2013 | N° 17350

Um duro golpe para família de brigadianos

Filho de policial e irmão de PM que comandou liberação de reféns em Cotiporã tombou em confronto



Uma família que tem a vida de policial militar como referência sofreu seu maior golpe, em Caxias do Sul: a morte do sargento da reserva Jorge Alberto Amaral, 44 anos. Irmão do capitão Juliano Amaral, 33 anos, que em dezembro passado ganhou notoriedade ao comandar uma ação contra ladrões de joias em Cotiporã, e filho do subtenente aposentado Juvenil Chagas Amaral, 69 anos, Jorge foi assassinado por dois assaltantes na noite de terça-feira.

– Sempre contei histórias de brigadiano para ele. Mas quando decidiu virar um, fiquei com o coração apertado. Hoje, entendo o porquê – desabafou Juvenil ontem, sem sair de perto do caixão no qual o filho era velado.

Jorge estava na reserva da Brigada Militar havia cerca de dois meses. Aposentou-se após 25 anos de carreira, somada ao período em que serviu ao Exército. O último posto conquistado, há dois anos, foi o de terceiro sargento.

– Ele era muito dedicado. Um dos policiais mais atuantes. Mesmo nos horários de folga e agora, com a aposentadoria, continuava a trabalhar como segurança. Essa área era a vida dele e não pensava em largar – conta o pai.

Filho caçula vestiu farda para homenagear o pai

Em 2000, o soldado teve o primeiro sinal dos riscos da profissão. Ombro e perna foram atingidos ao evitar um assalto. Mesmo assim, persistiu na função. A carreira dele também motivou a escolha do irmão mais novo, Juliano, que ontem estava desolado. A família soma 74 anos de dedicação à BM.

Jorge deixa a mulher e três filhos. O caçula, por iniciativa própria, resolveu homenagear o pai durante o velório ao vestir uma farda. A cerimônia ficou lotada durante todo o dia. Lá estavam PMs, bombeiros, policiais civis e rodoviários e outros servidores públicos, além de amigos e familiares de Jorge.

– Ele era muito ligado à família e aos amigos. Aproveitava os poucos momentos de folga para passar com os filhos. Era muito brincalhão e animava o lugar onde estivesse – conta Juvenil.

A última reunião em família ocorreu no domingo.

ANDRÉ FIEDLER E RÓGER RUFFATO



Desolação no local do crime

A presença de dezenas de PMs em serviço e fora de serviço, acompanhados de policiais civis, e a reunião de pelo menos 10 viaturas de órgãos de segurança indicava que o crime ocorrido por volta das 22h45min de terça-feira no bairro Floresta era incomum. No local do nono homicídio registrado neste ano em Caxias do Sul, policiais militares se abraçavam sem acreditar na morte do ex-colega de farda. Informado sobre a morte do irmão, Juliano foi ao local. Chorando muito, ele se ajoelhou diante do corpo. Policiais militares o ampararam.

Jorge foi morto ao tentar interceptar dois homens que haviam roubado um Spin. A ação dos bandidos começou por volta das 22h30min no bairro Madureira. A dupla, em uma moto, abordou o dono do veículo na Rua Virgílio Ramos. Um dos ladrões entrou na garagem e assaltou a vítima que chegava em casa. O homem entregou o carro, e os criminosos fugiram – um deles na moto, e o outro, no carro roubado.

Ontem, a Polícia Civil ainda investigava como Jorge soube do assalto. Informado da ocorrência, possivelmente por um rádio na frequência da BM, ele teria iniciado por conta própria a perseguição aos bandidos, pilotando sua própria moto. A busca se estendeu por alguns quilômetros e acabou na Rua Cristiano Ramos de Oliveira. O ex-PM alcançou os bandidos e tentou abordar a Spin, que saiu da pista e parou. Conforme relatos de testemunhas à Brigada Militar, Jorge teria lutado com um dos ladrões e acabou baleado no pescoço. Ele morreu no local. O revólver que usava foi levado pelos criminosos.

Uma moradora das proximidades disse que assistia à TV com a família quando ouviu estampidos. Com medo, só percebeu o que havia acontecido cerca de 15 minutos depois, com a chegada da polícia.

– Ouvimos os tiros e nos escondemos – relata.

O crime é investigado pela Delegacia Especializada em Furtos, Roubos Entorpecentes e Capturas (Defrec). Conforme o delegado Ives Trindade, as diligências para reconstruir a sequência de acontecimentos se iniciaram ainda na noite de terça.

– Os agentes ouviram pelo menos cinco testemunhas no local da morte. Durante todo o dia, eles realizaram novas diligências em busca de pistas que indiquem a direção de fuga ou até mesmo a identificação. Solicitei as imagens de câmeras de segurança de alguns pontos comerciais daquela região, que podem nos ajudar nesse trabalho – relata Trindade.

Ainda segundo a polícia, testemunhas disseram terem ouvido dois disparos. Como o sargento teve apenas um ferimento à bala, uma das hipóteses é de que o ex-policial possa ter sido responsável pelo outro disparo e ter ferido um dos criminosos. Amostras de sangue foram colhidas no local pela perícia, que poderá apontar se houve outra pessoa ferida na ação.

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