quarta-feira, 18 de novembro de 2015

PARABÉNS, BRIGADA MILITAR - 178 ANOS



CORREIO DO POVO


Paulo Roberto Mendes Rodrigues
Juiz-Cel TJMRS






Brigada! Hoje - 18/11/2015 - é dia de prestarmos uma continência bem caprichada a uma senhora, já idosa, mas com espírito sempre jovial e forte, pois ela está de aniversário. Como diz o velho sábio: “O ontem é passado, o amanhã é uma incógnita e o hoje é uma dádiva e, por isso, o chamamos de PRESENTE”! E, certamente, o que pretendemos nesta simples homenagem é oferecer um reconhecimento a cada um dos milicianos que compõem a grande família da brigadiana.

Reviver um pouco desta história é importante e ela começa em 18/11/1837, em plena Revolução Farroupilha, com o nome de Corpo Policial. Durante sua evolução, adotou diversas denominações, mas firmou cadência em 15/10/1892, quando assumiu a atual designação.

Inicialmente, sua missão principal era a defesa territorial, e nossos valorosos antepassados foram aguerridos e fortes. Foram muitos “combates e entreveros”, no Estado e fora dele, todos vitoriosos, porém, nunca se descuidou da proteção aos gaúchos. Adiante, em 1955, são criadas a Companhia Pedro e Paulo e o Regimento dos “abas-largas”, os quais caíram na simpatia da população, pelas atuações sempre eficientes no combate a bandidagem.

Ganhou um grande presente em 1967, assumindo a exclusividade das atividades de policiamento ostensivo. Adiante, já ano de 1987, houve outro avanço importante: foi criada a Companhia de Policiamento Feminino. Era a vez de as mulheres darem a sua contribuição ao policiamento. E, em 1988, a Constituição Federal assegurou o exercício de polícia ostensiva e a preservação da Ordem Pública, tudo visando à construção da tão almejada paz social.

Atualmente são milhares de atendimentos ao público em suas complexidades do dia-a-dia, o que exige a profissionalização cada vez mais intensa de nossos valorosos brigadianos, os verdadeiros guardiões dos pampas gaúchos.

Diuturnamente, vestindo seu uniforme sempre sagrado, caminhando com suas botinas e de passos firmes e largos, rumo ao seu bicentenário. Em sua homenagem, portanto, lembremos parte de sua canção: “dos leões farroupilhas trazemos o vigor destemido no ser. Heroísmo, bravura e ousadia pra vitória final merecer! ...” .

Ah! Talvez seja oportuno, fazer um pequeno pedido ao nosso Governador, embora as sabidas dificuldades financeiras, para que determine rapidamente a recomposição dos efetivos, de forma a dar um basta definitivo na criminalidade que assola os gaúchos no dia-a-dia.

Parabéns, Brigada Militar!

BRIGADA VELHA DE GUERRA





CORREIO DO POVO

OSCAR BESSI


“ Brigada velha de guerra”. Ele se referia assim, ao falar da corporação cuja farda vestiu por 34 anos. Era o jeito como meu pai a definia. 

E, em suas memórias, voltava o soldado Bessi, incluído nas fileiras em 1946, ao largar a vida de cortador de mato no esquecido Vapor Velho, depois de perder o pai e quase ter o pé decepado por um machado, sem perder a vontade de fazer algo a mais na vida. Jurou defender seu povo. 

Na época, os jovens alemães, seus amigos de infância no Vale do Caí, que sofriam perseguições do pós-guerra. Vejo suas fotos em preto e branco que me deixou de herança, acampado em rincões do pampa como São José dos Ausentes. Um menino e seu compromisso. Como prender o desordeiro que espancava prostitutas para, anos depois, reencontrá-lo prefeito de uma cidade. Que, formado, conheceu os livros, em novembro, o mês em que nasceu, mês que seria da Feira do Livro de Porto Alegre, que me ensinou a frequentar. Mês que escolheu para deixar este mundo. Os livros o levaram a ser cabo, sargento, oficial. 

Quando comecei a escrever no Correio do Povo, falava com carinho e orgulho do cabo Vito, pai do nosso Juremir, que adorava ler. De sua vida ativa até a minha foram seis décadas de imersão nas entrelinhas desta força policial quase bicentenária. Força que sobreviveu às críticas, à politicagem, às forças contrárias e aos seus próprios erros históricos. 

Meu pai contava suas participações como cavalariano no tumulto após a morte de Getúlio (que ele idolatrava igual aos operários, mesmo com aquelas escorregadelas tirânicas), as trincheiras da Legalidade, o asco que sentia em relação ao regime militar. Contava-me sem papas na língua quem fez o quê. Só me pedia para não repetir por aí, pois “tu não sabes do que essa gente é capaz”, repetia, apavorado, no dia em que me viu com um bóton clandestino, no tempo do governo Figueiredo. Os tempos mudavam, eu sabia. Mas meu pai era gato escaldado. 

A Brigada Militar de hoje conta outras histórias, todos os dias, de novas guerras. De vidas que se salvam, de soldados lutando contra o caos, sempre melhor armado, mas conseguindo vitórias, mesmo que pareçam em vão ou resultem em pouco mais que nada. A farda maltratada na cultura da impunidade, mas único fio de esperança em instantes de desespero. O portal público de socorro 24h. Erros? Sim, eles existem. Humanos erram todos os dias, em todos os lugares, e os erros nos machucam. Enfim. Pobre humanidade, essa de trilhos abandonados, destruições, agressões ao semelhante. Mas recheada de heróis anônimos. A estes que peço um abra- ço. Os bons existem. E só eles são capazes de se tornarem perenes.



BRIGADA FUTEBOL CLUBE

ZERO HORA 21 de junho de 2015 | N° 18201


NO ATAQUE | Diogo Olivier



 

A DONA DA BRAÇADEIRA



MICHELE MARIA, Capitã do 1º Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Porto Alegre

Ela não é Nascimento como o do cinema, eternizado pelo ator Wagner Moura. Mas é capitão de elite tanto quanto. Ou melhor, capitã. Gaúcha de Santa Maria, advogada, 36 anos, dançarina de jazz, solteira, 1m73cm, sem namorado, treinada em artes marciais combinadas, falante mas capaz de se esquivar de temas nos quais boca fechada é sabedoria, Michele Maria Sagin da Silva é a primeira mulher a alcançar o cobiçado oficialato no 1º Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar (BOE), em Porto Alegre.

Michele se acostumou a esfarelar paradigmas. Entrar para o BOE, onde é preciso combinar tirocínio, fortaleza psicológica e potência física é apenas o mais expressivo. Mas há outros, prosaicos, que a gente nem imagina. Arrumar um jeito de aprisionar as longas madeixas cacheadas dentro do capacete é um deles. Diziam que teria de cortar o cabelo. Não cortou. Segue as regras de corporação no uso de maquiagem suave para os olhos verdes.

Pois Michele, com seu amplo currículo militar, agora trabalha em jogos de Inter e Grêmio. A qualquer momento pode ser requisitada a atuar no corpo a corpo destas badernas de organizadas, cujas rixas já produziram mortes e depredação de toda espécie.

– Se tiver que entrar, eu entro. Se o sujeito perceber que tu sabe, e eu sei, pode apostar que eu sei, ele recua na hora. Sou treinada. É só focar na técnica, não tem mistério.

Eu é que não vou duvidar da dona da braçadeira.

É mais difícil para uma mulher entrar no BOE?

O que eu mais ouvia era: “Você vai ficar na parte física”. Eu me entreguei de corpo e alma ao Curso de Especialização em Operações de Choque. Foram 45 dias intensos. Você faz tudo de colete, capacete, o equipamento do dia a dia. Sem condicionamento de longa data, sem uma memória física, não entra. Mas além da força, física e mental, é crucial a determinação. Trata-se de quebrar paradigmas. Era o meu sonho, desde que me formei em Direito. Lutei muito para estar aonde estou, nestes 9 anos de corporação e dois na Academia de Polícia.

Você está falando de machismo?

A sociedade é machista. Todo mundo sabe disso. O Rio Grande do Sul, mais ainda. Mas já não é como antes. E tem também o lado do conformismo da própria mulher, que termina sendo levada sempre para o lado da gestão, da administração, em vez do trabalho físico que exige embate. Por que não pode? Pode, sim.

Tem vestiário feminino para você no BOE?

Não, pois sou a primeira mulher. Mas fico no alojamento das mulheres praças sem o menor problema. Somos uma equipe, e elas também são pioneiras. No futuro, com mais mulheres oficiais, certamente construirão um. É o que te falo, dos paradigmas.

E as piadinhas machistas?

Nunca ouvi na BM (Michele chefiou a terceira seção do 2º BOE de Santa Maria; o 4º Pelotão da 1ª Companhia do 7º BPM em Crissiumal e, no 15º BPM, esteve à frente da Companhia de Operações Especiais). É uma questão de postura. Sou muito profissional. A conduta no BOE é rígida e respeitosa para todos, homens e mulheres. É bem tranquilo.

E o possível cara a cara com a violência dos barra-bravas?

Já atuei em jogos, de prontidão. Sou combatente. Sou choqueana. Se tiver de entrar no estádio para resolver alguma confusão, eu entro e não tem conversa. Se o sujeito perceber que tu sabe o que está fazendo, e eu sei, ele recua. Nunca tive problema com isso por ser mulher. É uma questão de técnica, de treinamento. Você vai lá e faz. É o nosso trabalho.

Não dá medo?

(Risos) Tá falando sério?

Para que time você torce?

(Mais risos) Brigada Militar Futebol Clube.

Aonde a capitã Michele Maria quer chegar?

O meu sonho está realizado. Já tive convites para outras funções, algumas administrativas, em razão da minha formação acadêmica (Michele tem especializações em direito processual civil e direito constitucional aplicado, integrou a assessoria jurídica do Comando Geral da BM e fez o curso de contrainteligência da BM). Mas não quero. Eu quero o BOE. O que vier agora é lucro, mas que venha naturalmente.

INSTITUIÇÃO SE APERFEIÇOA AOS 178 ANOS

Batalhões em todo o Rio Grande do Sul usavam caminhonetes nos anos 1950 para patrulharem estradas e ruas. Na década seguinte, a instituição passou a usar viaturas menores no policiamento ostensivo
Batalhões em todo o Rio Grande do Sul usavam caminhonetes nos anos 1950 para patrulharem estradas e ruas. Na década seguinte, a instituição passou a usar viaturas menores no policiamento ostensivo

MAUREN XAVIER

A Brigada Militar nasceu com a missão de garantir a ordem pública no momento em que o Rio Grande do Sul enfrentava as turbulências da Guerra dos Farrapos. Após 178 anos, que serão celebrados no próximo dia 18, a corporação ainda enfrenta o mesmo desafio. Porém, o panorama e a complexidade são bem maiores. Com um número limitado de profissionais, cerca de 20 mil, e com uma defasagem estimada em quase 40%, a Brigada enfrenta uma onda de criminalidade em ascensão. Assim, busca na gestão um caminho para romper as dificuldades e conseguir atender ao volume variado de demandas, que muitas vezes nem são de responsabilidade da corporação. “Exercemos um papel essencial na sociedade. Ele é fundamental para garantir a ordem e, mais do que isso, a democracia”, afirma o comandante-geral da BM, coronel Alfeu Freitas. “Incorporamos muitas fun- ções ao longo do tempo”, afirma. Especificamente, o coronel fala de serviços como o policiamento em presídios. Atualmente, são deslocados 600 PMs para atuarem no Presídio Central e na Penitenciária do Jacuí. “Foi um trabalho temporário que se tornou permanente”, analisa. “Gostaríamos de deixar os presí- dios”, enfatiza. O desafio de gerenciar um grupo limitado diante de inúmeras demandas faz com que a gestão seja fundamental. “Buscamos estimular e aperfeiçoar boas práticas, como o monitoramento dos índices de criminalidade”, exemplifica. “Isto serve para nos mostrar onde podemos atuar mais fortemente”, afirma o oficial. Para Freitas, o presente de aniversário ideal seria a união de toda a população para reduzir a criminalidade. Criar condi- ções para evitar que crimes fossem cometidos. Que os criminosos detidos tivessem condições de ressocialização, evitando, por exemplo, o trabalho do “prende e solta”. A Brigada Militar registra por dia 4.800 ocorrências e prende 360 pessoas. “Somos os mais criticados”, comenta o comandante-geral. “Pois, estamos presentes em todos os locais”.
Pelotão, provavelmente no interior do Estado, perfilado para cerimônia
Pelotão, provavelmente no interior do Estado, perfilado para cerimônia
Uma vocação de pai para filho

A Brigada Militar também faz parte da família de muitos de seus integrantes. Não são raras as histórias de pessoas que ingressaram ainda jovens e, gradativamente, avançaram, chegando a ocupar cargos de destaque. A história de vida do coronel Alfeu Freitas, atual comandante-geral da BM, é um dos exemplos. Ele ingressou aos 17 anos, seguindo o exemplo de seu pai, que era brigadiano. Dentro da corporação, Freitas avançou até o cargo máximo. Outra história é a de José Dilamar Vieira da Luz. Ele também ingressou aos 17 anos e foi para a reserva após exercer o comando-geral da corporação, de 1996 a 1998. A sua trajetória totaliza 33 anos. “Desde pequeno quis ser militar e optei pela BM porque assim poderia ficar no Estado”, recorda Luz. A escolha, em parte, foi influenciada pelo primo, que pouco antes havia se formado aspirante. “Segui o caminho”, comenta. E a sua trajetória foi de ascensão, passando por diversos departamentos e cidades. “A BM faz parte da minha história”, resume. E, mesmo na reserva, a instituição ainda está presente em sua vida. O major Leandro, seu filho mais velho, é lotado no setor de Inteligência do Comando de Policiamento da Capital (CPC). O ex-comandante-geral recorda a mudança que promoveu na corporação na época que era o titular. A formação em Direito passou a ser obrigatória para o PM tornar-se oficial. Mas o maior desafio é combater a criminalidade sem as condições ideais. “Os crimes aumentam em uma velocidade maior do que a capacidade da Brigada Militar em dar uma resposta”, atesta o oficial da reserva.