quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CEL AGENOR BARCELOS FEIO: BRIGADIANO HERÓI REVOLUCIONÁRIO

JORNAL ABC DA SEGURANÇA

Articulador e trainer dos operadores, participou do ataque ao Quartel da 3ª Região Militar em 3/10/1930



As informações que colhemos das mais diferentes fontes reforçaram o que já estávamos pensando de tão importante figura da Revolução de 1930.

Realmente, o Cel Agenor Barcellos Feio tinha sido um homem de valor, pois era bondoso, justo e disciplinador.

Precisávamos colher elementos para traçar, ainda que superficialmente, a biografia daquele que comandara tão intrépido assalto militar ao Quartel General da 3ª Região Militar, sediado em Porto Alegre, na tarde de 3 de outubro de 1930, e executado por um pugilo de homens da extinta Guarda Civil.

Assim percorremos vários caminhos – Sr. Amaro Barcellos Feio, Sras. Luiza Soviero Feio, Maria Fausta Feia Obino e Graziella Ferraz Feio, e mais o Cel EBTolio Soviero, respectivamente, irmão, viúva, filha, cunhada e sobrinho de Agenor. Todos nos cercaram com o carinho e atenção.

Tudo começara com as preciosas indicações do Cel PM Paulo Fernandes e Maj. PM Wolmer Correa que haviam feito tais orientações.

A filha Maria Fausta nos disse, da última homenagem prestada – mesmo decorridos 11 anos da morte de Agenor – isto tinha acontecido no último dia 6 de agosto, quando o Prefeito Municipal de Niterói Sr. Moreira Franco, assinou o Decreto nº 3360/80, com aquela data, e que a certa altura destacava: 

…”considerando que o ex-coronel Agenor Barcellos Feio prestou, com invulgar dedicação, assinalados serviços ao Estado do Rio de Janeiro, quer como titular do cargo de Secretario de Segurança Pública quer no desempenho dos mandatos eletivos de Deputado Estadual e Deputado Federal; considerando a desvelada atuação do saudoso homem público no desempenho de todas as importantes missões que lhe foram confiadas, decreta – Art.1º – É denominado Cel Agenor Feio o terminal rodoviário da zona norte de Niterói”…

As duas cartas que serão transcritas parcialmente adiante tem a maior valia documental – a primeira – do próprio Agenor – se constituindo em uma autobiografia – e a segunda – da sua filha Maria Fausta – complementa algumas posições e realizações de um homem que também soubera vencer longe de seu Estado.

Dados Pessoais - Sou filho de Felix Feio, natural de Soledade, e de Maria Fausta de Barcellos Feio, natural de Cachoeira do Sul. Nasci, em 9 de abril de 1896, no lugar denominado Charqueadas – 1º distrito do município de S. Jerônimo. Mas, minha família instalou-se, pouco depois, na cidade de S. Jerônimo, onde faleceram meus saudosos pais.

Cargos Ocupados - Antes de ser Prefeito de Santana, ocupei os seguintes cargos:

No Estado do Rio Grande do Sul
Praça de 1913 iniciou o meu oficialato na Brigada Militar, em 14 de dezembro de 1917, quando fui nomeado para o posto de alferes (2º tenente) e classificado no Grupo de Metralhadoras.
Fui ajudante de ordens do saudoso Coronel Afonso Emilio Massot, Comandante Geral da Brigada – chefe de grande envergadura moral, intelectual e profissional – hoje Patrono da Brigada Militar. A seu lado, atuei na guarnição e defesa da Capital do Estado, por ocasião da revolução de 1923, tendo tomado parte na fuzilaria que se travou, numa fria madrugada de agosto daquele ano, na Praça de Bombeiros, em Porto Alegre, entre uma força da Brigada, por mim dirigidos, e revolucionários que pretendiam apoderar-se de metralhadoras dos 3º Batalhão, por meio de suborno dum cabo que foi, entretanto, leal e revelou o plano, permitindo que o grupo sedicioso fosse desbaratado, após a sua reação.

Como o 1º Tenente, em 1924, seguiu para a capital de S.Paulo, fazendo parte de um grupo de batalhões de caçadores da Brigada, que para ali se deslocou, com o efetivo de 1.000 homens, para combater, ao lado das forças legais, contra os rebeldes do General Isidoro Dias Lopes, que ocupavam a cidade. Durante mais de umas nós, o G.B.C. combateu, bravamente, os rebeldes nas ruas do Alto da Mooca, na zona do Hipódromo, onde se travaram renhidos encontros, inclusive, a baioneta, dentro das peculiaridades da luta, nas ruas, quarteirões e edifícios da cidade. Tivemos aí 5 mortos e 31 feridos. Depois da retirada dos rebeldes da capital, o G.B.C. teve ordem de deslocar-se para o Paraná, a fim de evitar a incursão dos mesmos neste Estado, pela fronteira paulista da Alta Sorocabana.

Como, entretanto, os rebeldes tivessem seguido, em várias composições de trem, pela Alta Sorocabana, rumo ao Porto Tibiriçá, nos barrancos do Rio Paraná, a divisão de operações deu ordem ao G.B.C. para retornar a S. Paulo, a fim de assumir a vanguarda das tropas do Exército e auxiliares que perseguiam a coluna de Isidoro. Em Presidente, o G.B.C. assumiu a vanguarda e combateu em Santo Anastácio com a “coluna da morte”, comandada pelo famoso tenente Cabanas. A luta durou 4 horas. E os rebeldes, aproveitando-se da trégua da noite, retiraram-se pela madrugada. Tivemos, nesse combate, várias perdas, inclusive o Capitão Cristalino Pedro Fagundes, oficial de destacada bravura.

Após 3 meses de operações, o G.B.C. retornou a Porto Alegre, depois de ter cumprido com sacrifício e bravura a sua missão. Em 15 de abril de 1925, fui promovido ao posto de capitão e nomeado, na mesma data, para o cargo de secretário da Brigada Militar, no comando do Coronel Massot.
Com o infausto falecimento deste grande chefe, em 21 de outubro de 1925, as sumiu, em seguida, o comando da Brigada, o saudoso coronel Claudino Nunes Pereira – oficial culto, dinâmico e empreendedor – que me convidou para que continuasse, no seu comando, ã frente da Secretaria da Brigada, cargo que exerci até 18 de janeiro de 1929, data em que, no governo do grande brasileiro e estadista, o saudoso Dr. Getúlio Vargas, então Presidente do Estado e a quem a Nação deve a obra inolvidável da sua transformação social, politica e econômica, que se operou no seu benemérito governo – fui nomeado para organizar e exercer, em comissão, o cargo de comandante do Corpo de Guardas Civis de Porto Alegre.
Depois de estudar as organizações das Polícias Civis do Rio e de S. Paulo, imprimi organização moderna ao Corpo de Guardas Civis de Porto Alegre, dentro dos princípios da polícia preventiva, branda, maneirosa e assistencial, sem prejuízo de ação firme, quando necessária ela se tornasse.
Foram adotados uniformes mais condizentes com a função especifica da corporação e submetido o pessoal, para admissão, a rigorosos testes mentais, físicos e morais. Era intensiva a instrução policial teórica e prática, de acordo com modernos métodos, além dos treinamentos de ordem unida – a escola da coesão e da disciplina.
Dava-se, em geral, preferência para a admissão aos melhores reservistas do Exército e da Brigada, homens já com o espírito de disciplina e os sensos adquiridos na caserna, além de treinados no manejo das armas leves e pesados, dentro do critério de que a policia preventiva deve também estar apta a usar de meios adequados nos graves perturbações de ordem pública, atuando como policia de choque se necessário for.
O Corpo de Guardas Civis, hoje Guarda Civil de Porto Alegre, prestou e vem prestando os mais dedicados e relevantes serviços à coletividade, sendo que o Corpo de Guardas Civis, desempenhou, bravamente, sob o meu comando, coma supervisão do grande brasileiro e animador da Revolução, o saudoso Dr, Oswaldo Aranha, e do General Flores da Cunha, talvez a mais importante e decisiva missão da Revolução de 30, na tarde de 3 de outubro daquele ano, com a tomada do Quartel General da 3ª Região Militar e do Arsenal de Guerra , situado à rua dos Andradas, na Capital do Estado.

Nessa violenta refrega, que durou uns 15 minutos mais ou menos, o Corpo de Guardas Civis teve 7 mortos e 15 feridos, que deram as vidas e derramaram seu generoso sangue pela redenção da Pátria.

A 10 de outubro de 1930, fui promovido ao posto de major e dois dias depois, a 12 de outubro, fui comissionado no posto de tenente-coronel para comandar o 19 Batalhão de Infantaria da Reserva, que foi por mim organizado, com o efetivo de 800 homens, composto de pessoal do Corpo de Guardas Civis, de elementos da Brigada Militar e de voluntários incorporados.

Este Batalhão, rapidamente organizado, armado e equipado, seguiu em duas composições de trem para, ao lado das forças revolucionárias, lutar contra as forças reacionárias que ocupavam Itararé, em S. Paulo, e zonas circunvizinhas.

Com a deposição, porém, do governo pelas forças do Exército, estacionadas no Rio de Janeiro, as forças paulistas reacionárias depuseram as armas, evitando-se, assim, o derramamento de sangue, na iminente batalha de Itararé.

O Batalhão teve ordem de seguir para a cidade de S. Paulo, onde acantonou no Armazém B2 da Central do Brasil. Depois de uns dez dias de permanência em S. Paulo, tivemos ordem de regressar ao Rio Grande e chegamos a Porto Alegre, em 12 de novembro de 1930.



Estado do Rio de Janeiro – Niterói

O Cel Agenor Barcellos Feio veiu para o Estado do Rio a convite do Interventor Ernani do Amaral Peixoto, para ocupar o cargo de Secretário de Justiça e Segurança Pública. Foi nomeado a 5 de agosto de 1942 e tomou posse dia 6. A 29 de outubro de 1945 foi nomeado pelo Interventor Ernani Do Amaral Peixo To para exercer, em comissão, o cargo de Secretário de Segurança Pública. Tomou posse nesse dia. A 29 de fevereiro de 1946, foi nomeado pelo Exmo Sr. Presidente da República, Gen. Eurico Gaspar Dutra, para exercer as funções de membro do Conselho Administrativo do Estado do Rio de Janeiro. Tomou posse a 8 de março de 1946, no Palácio do Governo em Niterói. Em 1947, nas eleições de 19 de janeiro, se candidatou a Deputado Estadual pelo P.S.D. (Partido Social Democrático). Foi eleito e diplomado a 14 de fevereiro do mesmo ano.

Em 1950, nas eleições de 3 de outubro, candidatou-se novamente a Deputado Estadual pelo P.S.D. Foi eleito e diplomado a 31 de janeiro de 1951. Nesse mesmo ano o Governador do Estado do Rio, Ernani Do Amaral Peixito nomeou-o para exercer, em comissão, o cargo de Secretário de Segurança Pública. Tomou posse a 31 de janeiro e entrou em exercício. A 6 de agosto de 1952, recebeu da Câmara Municipal de Niterói o título de Cidadão Honorário de Niterói, título esse conferido em reunião realizada 15 de julho.
Em 1954, nas eleições de 3 de outubro se candidatou a Deputado Federal pelo P.S.D.; foi eleito e diplomado a 31 de dezembro do mesmo ano. No governo do Sr. Ernani do Amaral Peixoto foi nomeado para exercer o cargo de Ministro do Tribunal de Contas, a 22 de dezembro de 1954. O Exmo. Sr. Presidente da República, Juscelino Kubistschek, em 1959, nomeou o para Diretor da Caixa Econômica Federal, continuando nos governos dos Presidentes Janio Quadros e João Goulart, até o término de seu mandato, em 1964. Faleceu a 15 de dezembro de 1969, sendo enterrado no cemitério da Conceição, em Niterói.

O opúsculo publicado pela chefia da Polícia Civil/RS, em 1966, que transcrevo, cuja capa se encontra, na galeria, possibilitou que se obtivesse melhores informações sobre o Cel Agenor Barcellos Feio. Por terem chegado, imediatamente, após inciado o ataque ao quartel da 3ª Região Militar, são retratados como comandantes da ação: Oswaldo Aranha, Flores da Cunha e o então capitão Agenor Barcellos Feio.

FONTE:

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