quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DRAMA E MOBILIZAÇÃO


ZERO HORA 27 de fevereiro de 2013 | N° 17356

TRAGÉDIA DE SANTA MARIA: O DOMINGO SEM FIM


Quando o telefone tocou, no meio da madrugada, o coordenador Regional da Defesa Civil, o tenente-coronel da Brigada Militar Adilomar Silva, cambaleou até o aparelho. Atendeu com a voz pastosa de sono. Do outro lado, na sala de operações do 1º Regimento de Polícia Montada, falava uma soldado.

– O senhor tem lona preta disponível, coronel? – questionou.

Intrigado com a necessidade repentina do material, geralmente usado para recompor telhados destruídos por intempéries, Silva perguntou qual a razão do pedido, feito às 3h45min daquele domingo, 27 de janeiro.

– Para cobrir corpos – respondeu a soldado.

O oficial explicou que toda a lona armazenada fora remetida a municípios próximos em razão das pesadas chuvas de granizo de setembro e outubro. Sugeriu que a brigadiana ligasse para a coordenadoria municipal da Defesa Civil. A soldado agradeceu e desligou. O tenente-coronel sentou-se na cama e, em seguida, sussurrou para si próprio:

– Como assim, cobrir corpos?

Telefonou de volta e indagou o que estava acontecendo. Ouviu sobre o incêndio que já deixara pelo menos 20 mortos. Intuiu que a dimensão do desastre exigiria o envolvimento da Defesa Civil, responsável por facilitar a coordenação entre diferentes órgãos em casos de emergência. Tomou um banho, vestiu o uniforme e partiu para dar início à dura missão de organizar o transporte, armazenamento, identificação e liberação das vítimas.

Por volta das 4h, quando o oficial terminava de se aprontar, o empresário Luís Gustavo Riet, 34 anos, ainda entrava e saía ofegante da boate carregando gente para fora do inferno de chamas e gases tóxicos. Riet estava na Kiss quando o incêndio começou e conseguiu escapar da fumaça venenosa. Em vez de ir embora, resolveu voltar e salvar pessoas.

– Encontrei um segurança chorando porque a mulher dele ainda estava lá dentro – conta.

O empresário tentou chegar até ela, mas achou o caminho bloqueado por uma pilha de corpos. Retornou puxando uma pessoa e, quando tentava entrar novamente, acabou impedido por um bombeiro, por razões de segurança. Olhou em volta e empunhou uma marreta da corporação. Com ela, começou a quebrar a fachada do estabelecimento para criar um novo acesso. Em segundos, outros jovens agarraram picaretas, machados e barras de ferro com o mesmo objetivo e compuseram uma das imagens mais emblemáticas da madrugada trágica. Um rombo se abriu na parede, mas, em vez de sobreviventes, por ali só saíram rolos de fumaça preta.

– Não deu para tirar ninguém – lamenta Riet, que ficaria cinco dias internado devido à aspiração dos gases.

Centro Desportivo Municipal vira epicentro da dor gaúcha

Quando o coordenador da Defesa Civil chegou ao local, antes das 4h30min, a marreta de Riet já tinha sido abandonada. Não havia mais esperança de resgatar sobreviventes, e os bombeiros faziam o rescaldo do incêndio no interior ainda esfumaçado da boate.

Adilomar em seguida entrou na Kiss e, pelo que pôde vislumbrar em meio à escuridão, achou que havia no mínimo mais 30 mortos no local, além dos 20 já retirados:

– Foi o momento mais chocante de todo o dia – avalia o tenente-coronel.

O novo desafio era organizar o cenário caótico e fazer o “manejo dos mortos”, no jargão de Defesa Civil. Adilomar e representantes da Brigada, prefeitura e Polícia Civil fizeram, diante dos escombros fumegantes da Kiss, a primeira reunião do que viria a se transformar no gabinete de gestão de crise em Santa Maria.

Uma das primeiras e mais importantes decisões a serem tomadas era definir o local para onde seriam removidos os corpos, a fim de serem identificados e entregues às famílias. Amplo, com boa infraestrutura e fácil acesso, o Centro Desportivo Municipal (CDM) se transformaria no epicentro da dor no Estado.

Para dar conta da catástrofe, o tenente-coronel de 43 anos, há 26 na Brigada, avaliou que seria necessário envolver mais órgãos oficiais. Telefonou para o chefe da Casa Militar, coronel Oscar Luiz Moiano, para pedir a liberação de aeronaves para transporte de vítimas, peritos para identificação dos mortos, apoio das Forças Armadas e reforço no efetivo da Defesa Civil.

Ainda pela manhã, servidores de órgãos e instituições como Brigada Militar, Instituto-geral de Perícias (IGP), prefeitura, secretarias estaduais, Exército, Aeronáutica, Corpo de Bombeiros, Cruz Vermelha, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e polícias Civil e Rodoviária Federal se uniram a cerca de 500 voluntários. O efetivo passou a ser coordenado pelo gabinete de gestão, no CDM, onde Adilomar se instalou.

Às 7h30min, um caminhão-baú da BM começou a buscar as vítimas e a deixá-las em um dos galpões do complexo. Ainda pela manhã, 234 corpos começaram a ser identificados. Quem não estava com a carteira de identidade tinha as impressões digitais colhidas e enviadas via internet para o IGP, na Capital, onde eram comparadas com um banco de dados.

– Nosso principal medo era que esse trabalho durasse mais de 24 horas. Por isso, já havíamos deixado frigoríficos da região de sobreaviso – revela o oficial.

Maratona fúnebre exigiu organização e agilidade

Com a chegada massiva de parentes em busca de informações, o tenente-coronel procurou orientar os brigadianos que faziam o policiamento da área: tinham de ser firmes para manter a ordem, mas respeitosos.

– Vi colegas disfarçando as lágrimas. Ninguém ficou totalmente alheio – conta.

À tarde, o CDM fervilhava com policiais, peritos, familiares e amigos de vítimas, jornalistas. Por trás da aparente confusão, havia um sistema: os corpos alinhados no primeiro galpão, uma vez identificados, passavam para um anexo. Lá, recebiam o registro do óbito. Então eram leva dos a uma terceira ala, onde eram entregues às funerárias e, de lá, liberados para os velórios, que começaram depois das 16h.

Em meio à maratona fúnebre, Adilomar e os demais integrantes do gabinete de crise faziam reuniões de hora em hora. No fim da tarde, o tenente-coronel deu-se conta de outro desafio: em um dia normal, Santa Maria realiza meia dúzia de enterros. Como dar conta de mais de uma centena que deveriam ocorrer o dia seguinte? Uma força-tarefa formada por Brigada Militar e Exército rumou, então, para os principais cemitérios da cidade, para abrir covas e gavetas para o dia seguinte.

O grande receio do oficial fora evitado: antes da meia-noite, os últimos corpos estavam identificados. A última vítima, acolhida em um caminhão-frigorífico do Exército, seria entregue aos familiares apenas na tarde de segunda-feira, porque seus parentes vinham de Mato Grosso do Sul.

Quando se completaram as 24 horas cruciais após o incêndio, a parte mais sensível do trabalho estava concluída, e Adilomar poderia ir para casa terminar a noite de sono interrompida na véspera. Em vez disso, tomou um café e continuou no CDM. Não estava com espírito para ir para casa, muito menos dormir.

O empresário Luís Gustavo Riet, que empunhou a marreta diante da Kiss, até hoje não consegue ter uma noite de sono:

– Tomo remédios, mas não durmo direito.

O gabinete de crise ainda funciona no CDM, e Adilomar segue trabalhando no auxílio a familiares de vítimas. Para personagens como o tenente-coronel, a noite de 27 de janeiro, o domingo cruel, ainda não acabou.

MARCELO GONZATTO

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

FARDAS EM LUTO

ZERO HORA 21 de fevereiro de 2013 | N° 17350

Um duro golpe para família de brigadianos

Filho de policial e irmão de PM que comandou liberação de reféns em Cotiporã tombou em confronto



Uma família que tem a vida de policial militar como referência sofreu seu maior golpe, em Caxias do Sul: a morte do sargento da reserva Jorge Alberto Amaral, 44 anos. Irmão do capitão Juliano Amaral, 33 anos, que em dezembro passado ganhou notoriedade ao comandar uma ação contra ladrões de joias em Cotiporã, e filho do subtenente aposentado Juvenil Chagas Amaral, 69 anos, Jorge foi assassinado por dois assaltantes na noite de terça-feira.

– Sempre contei histórias de brigadiano para ele. Mas quando decidiu virar um, fiquei com o coração apertado. Hoje, entendo o porquê – desabafou Juvenil ontem, sem sair de perto do caixão no qual o filho era velado.

Jorge estava na reserva da Brigada Militar havia cerca de dois meses. Aposentou-se após 25 anos de carreira, somada ao período em que serviu ao Exército. O último posto conquistado, há dois anos, foi o de terceiro sargento.

– Ele era muito dedicado. Um dos policiais mais atuantes. Mesmo nos horários de folga e agora, com a aposentadoria, continuava a trabalhar como segurança. Essa área era a vida dele e não pensava em largar – conta o pai.

Filho caçula vestiu farda para homenagear o pai

Em 2000, o soldado teve o primeiro sinal dos riscos da profissão. Ombro e perna foram atingidos ao evitar um assalto. Mesmo assim, persistiu na função. A carreira dele também motivou a escolha do irmão mais novo, Juliano, que ontem estava desolado. A família soma 74 anos de dedicação à BM.

Jorge deixa a mulher e três filhos. O caçula, por iniciativa própria, resolveu homenagear o pai durante o velório ao vestir uma farda. A cerimônia ficou lotada durante todo o dia. Lá estavam PMs, bombeiros, policiais civis e rodoviários e outros servidores públicos, além de amigos e familiares de Jorge.

– Ele era muito ligado à família e aos amigos. Aproveitava os poucos momentos de folga para passar com os filhos. Era muito brincalhão e animava o lugar onde estivesse – conta Juvenil.

A última reunião em família ocorreu no domingo.

ANDRÉ FIEDLER E RÓGER RUFFATO



Desolação no local do crime

A presença de dezenas de PMs em serviço e fora de serviço, acompanhados de policiais civis, e a reunião de pelo menos 10 viaturas de órgãos de segurança indicava que o crime ocorrido por volta das 22h45min de terça-feira no bairro Floresta era incomum. No local do nono homicídio registrado neste ano em Caxias do Sul, policiais militares se abraçavam sem acreditar na morte do ex-colega de farda. Informado sobre a morte do irmão, Juliano foi ao local. Chorando muito, ele se ajoelhou diante do corpo. Policiais militares o ampararam.

Jorge foi morto ao tentar interceptar dois homens que haviam roubado um Spin. A ação dos bandidos começou por volta das 22h30min no bairro Madureira. A dupla, em uma moto, abordou o dono do veículo na Rua Virgílio Ramos. Um dos ladrões entrou na garagem e assaltou a vítima que chegava em casa. O homem entregou o carro, e os criminosos fugiram – um deles na moto, e o outro, no carro roubado.

Ontem, a Polícia Civil ainda investigava como Jorge soube do assalto. Informado da ocorrência, possivelmente por um rádio na frequência da BM, ele teria iniciado por conta própria a perseguição aos bandidos, pilotando sua própria moto. A busca se estendeu por alguns quilômetros e acabou na Rua Cristiano Ramos de Oliveira. O ex-PM alcançou os bandidos e tentou abordar a Spin, que saiu da pista e parou. Conforme relatos de testemunhas à Brigada Militar, Jorge teria lutado com um dos ladrões e acabou baleado no pescoço. Ele morreu no local. O revólver que usava foi levado pelos criminosos.

Uma moradora das proximidades disse que assistia à TV com a família quando ouviu estampidos. Com medo, só percebeu o que havia acontecido cerca de 15 minutos depois, com a chegada da polícia.

– Ouvimos os tiros e nos escondemos – relata.

O crime é investigado pela Delegacia Especializada em Furtos, Roubos Entorpecentes e Capturas (Defrec). Conforme o delegado Ives Trindade, as diligências para reconstruir a sequência de acontecimentos se iniciaram ainda na noite de terça.

– Os agentes ouviram pelo menos cinco testemunhas no local da morte. Durante todo o dia, eles realizaram novas diligências em busca de pistas que indiquem a direção de fuga ou até mesmo a identificação. Solicitei as imagens de câmeras de segurança de alguns pontos comerciais daquela região, que podem nos ajudar nesse trabalho – relata Trindade.

Ainda segundo a polícia, testemunhas disseram terem ouvido dois disparos. Como o sargento teve apenas um ferimento à bala, uma das hipóteses é de que o ex-policial possa ter sido responsável pelo outro disparo e ter ferido um dos criminosos. Amostras de sangue foram colhidas no local pela perícia, que poderá apontar se houve outra pessoa ferida na ação.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

HERÓI: SGT RR É MORTO AO INTERCEPTAR BANDIDOS


ZERO HORA ONLINE 20/02/2013 | 01h02

CAXIAS DO SUL - Violência urbana

Irmão de policial que liderou libertação de reféns em Cotiporã é morto em Caxias do Sul. Sargento da reserva, Jorge Alberto Amaral, 44 anos, perseguiu assaltantes e acabou atingido por disparo



Juliano Amaral (camisa preta) é consolado por colegas da BM ao chegar no local onde o irmão foi morto - Foto: Porthus Junior / Agencia RBS


André Fiedler


Ao tentar interceptar dois homens que haviam roubado um veículo na noite de terça-feira, em Caxias do Sul, o sargento da Brigada Militar Jorge Alberto Amaral, 44 anos, foi morto por criminosos.

O policial militar, que estava na reserva, era irmão do capitão da BM Juliano Amaral, que se notabilizou por sua atuação em uma operação em Cotiporã, no final de dezembro.

A ação dos bandidos começou no bairro Madureira, quando a dupla, a bordo de uma motocicleta, teria abordado o dono de um veículo Spin na Rua Virgílio Ramos, nas proximidades do Hospital Virvi Ramos, antigo Fátima.

O dono do carro, que chegava em casa quando foi surpreendido, não reagiu ao ataque. A dupla de assaltantes fugiu, um deles conduzindo a moto, o outro o veículo roubado. O proprietário do carro levado não sofreu ferimentos.

Ainda não se sabe como Jorge Alberto ficou sabendo do assalto. De qualquer forma, informado da ocorrência, possivelmente por rádio, ele teria iniciado por conta própria a perseguição dos bandidos pilotando outra motocicleta, de sua propriedade. A busca aos bandidos se estendeu por alguns quilômetros e acabou na Rua Cristiano Ramos de Oliveira, próximo à esquina com a Avenida Perimetral Bruno Segalla.

No local, o sargento, que estava na reserva havia aproximadamente 30 dias, alcançou os bandidos e entrou em luta corporal com o tripulante da outra motocicleta. Foi então que foi atingido por pelo menos um disparo no pescoço e acabou morrendo no local. A Spin foi abandonada no ponto em que ocorreram os disparos.

O sargento é de família de policiais militares e irmão do capitão Juliano Amaral, que ficou conhecido por liderar o resgate dos reféns após o ataque a uma fábrica de joias de Cotiporã, no dia 30 de dezembro de 2012.

As nove pessoas, entre elas uma criança, foram encontradas à noite, depois de ficarem cerca de 20 horas desaparecidas, na localidade de Santa Lúcia, a aproximadamente cinco quilômetros de onde foram levadas pelos criminosos.

Pelo Twitter pessoal, o capitão Juliano publicou em tempo real a informação sobre a liberação: "Estamos com as nove vítimas sãs e salvas e bem. Deus seja louvado!".

PIONEIRO

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É mais um policial militar que tomba em nome de um juramento que fica gravado no coração e que, mesmo na reserva, não é esquecido pelos heróis da Brigada Militar. Nosso sentimento de pesar ao Capitão Juliano e à família e amigos do Sargento Jorge Alberto Amaral que entrega a vida na defesa da sociedade para uma bandidagem cada vez mais favorecida e impune.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

UM HERÓI FERIDO

ZERO HORA 17 de fevereiro de 2013 | N° 17346

ATAQUE EM COTIPORÃ


Passados 45 dias de uma das maiores ações criminosas da história do Estado, em que três assaltantes foram mortos e nenhum refém restou ferido após a explosão de uma fábrica de jóias, o único policial militar baleado com gravidade na madrugada de 30 de dezembro, em Cotiporã, vive momentos de angústia.

Oservidor público que protegeu uma família de agricultores e tirou de circulação bandidos que usavam explosivos para roubar bancos, pedágios e empresas vê golpeado, pela primeira vez em 15 anos, o orgulho de vestir a farda da Brigada Militar. Entre os mortos, estava o então foragido número 1 do RS, Elizandro Rodrigo Falcão, 31 anos.

Além do movimento em uma das mãos, o PM de 41 anos, casado e pai de um menino de seis anos, perdeu o vale-alimentação, as horas extras e a gratificação salarial que dobravam seu salário. Além disso, admite que a curto prazo não receberá a promoção anunciada pelo governador Tarso Genro.

A promoção, que tramita na Subcomissão de Avaliação e Mérito de Praças da BM, só ocorrerá quando o soldado for considerado inocente no inquérito aberto pela BM para verificar se os policiais não se excederam no confronto com os assaltantes. O PM também precisará ser inocentado na ação civil pública que tramita na Justiça comum. A seguir, entrevista concedida por ele ao jornal Pioneiro.

ROGER RUFFATO



PM tem perdas salariais

Mesmo que as reduções na folha de pagamento de um policial militar ferido constem no estatuto, a Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar as considera arbitrárias.

Além de perder horas extras e bonificações, o soldado ferido também fica sem direito ao vale-alimentação durante o período de afastamento. Outra luta da entidade é pela garantia de apoio psicológico, não oferecido aos servidores:

– O regulamento é ultrapassado. Temos muitos soldados dispensados por não terem condições de atuar nas ruas, mas que poderiam desempenhar atividades administrativas. Neste caso, o soldado é mutilado psicologicamente porque, para a Brigada, se tu não podes atuar fora, é um inútil – diz o presidente da associação, Leonel Lucas.

Contraponto - O que diz o comandante interino do Comando de Policiamento Ostensivo da Serra, tenente-coronel Leonel Bueno: Ele continua afastado da atividade policial por causa da lesão. Só o tempo irá dizer se ele irá retornar. A legislação não permite que ele receba hora extra por estar em licença de saúde. Mas o vale-alimentação ele recebe normalmente, não é suspenso por objeto de serviço. Pela antiguidade, ele recebia uma diferença de graduação, que é permitida quando há vacância em um cargo superior. No caso, o de sargento.


ENTREVISTA - “Eu poderia nem estar mais aqui”

Policial baleado

Pioneiro – Como vocês estavam armados? E os bandidos?

Policial – Eles estavam com fuzil, pistola e quatro ou cinco armas curtas. Nós tínhamos três fuzis.

Pioneiro – Em que momento o senhor foi baleado?

Policial – Quando eu me protegi atrás da viatura para recarregar a pistola. Levei dois tiros na perna e o meu colega levou estilhaços na canela. Quando sobrou só um bandido (o criminoso achado no mato uma semana depois), ele fez um cordão de reféns para evitar que a gente atirasse nele. Quando eu mandei os reféns se abaixarem, ele atirou no meu braço. Eu tentava negociar a saída dele ou a nossa. No começo, ele queria que nós pegássemos a viatura e fôssemos embora. Depois, tentou negociar para que ele fosse embora. Quando os colegas falaram que não tinha chance, ele fugiu para o mato.

Pioneiro – Você foi logo atendido?

Policial – Não, demorou. Eu estava perdendo sangue, com o braço quebrado.

Pioneiro – Você sofreu algum impacto emocional?

Policial – Todos que estavam envolvidos têm experiência. Não teve nenhum tipo de sequela psicológica.

Pioneiro – O que mudou na sua vida profissional?

Policial – A Brigada está me dando a assistência que preciso. Passei por duas cirurgias, fiquei 17 dias no hospital sem qualquer custo. Mas agora estou afastado, a princípio por seis meses, para recuperação dos movimentos da mão.

Pioneiro – Qual era seu salário antes e quanto recebe agora?

Policial – Nós perdemos parte do sálario quando somos afastados. Perdi a gratificação que ganhava como sargento (embora seja soldado). É complicado perder parte do salário. Quando mais você precisa, o salário é retirado. Mas faz parte do regulamento. Tenho 15 anos na BM, e sempre foi assim.

Pioneiro – Qual sua renda?

Policial – Eu estava recebendo em média R$ 3 mil. Agora recebo em torno de R$ 1,7 mil. O problema é que as contas não param. Só com aluguel nós gastamos R$ 500. Por enquanto, estamos conseguindo encaixar dentro da renda. Não está faltando nada.

Pioneiro – O governador Tarso Genro anunciou, quando visitou Cotiporã, que pediria a promoção dos policiais que atuaram no confronto. Se promovido, o senhor passará de soldado para...

Policial – Nós arriscamos a nossa vida, eu poderia nem estar mais aqui, então seria uma valorização ao policial militar. Eu passaria para segundo-sargento.

Pioneiro – Quando o senhor volta ao serviço?

Policial – A minha expectativa era que fosse o mais rápido possível, mas vai demorar um pouco, pois é preciso que o inquérito aberto para ver se agimos corretamente seja arquivado. Essa demora, financeiramente, acabará me prejudicando.

Pioneiro – E o futuro?

Policial – O meu objetivo é recuperar o movimento da mão. Minha mãe pede que eu saia da Brigada e consiga outro emprego. Mas, depois de passar 15 anos na Brigada, é complicado abandonar tudo.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

OFICIAIS DO HEROICO VISITAM AS RUINAS DO CATY



Jorge Gravana Pacheco Pacheco - Facebook


FOTO TIRADA EM FEV 1972 NO CATY INTERIOR DE LIVRAMENTO , COM OFICIAIS DO SEGUNDO REGIMENTO DE POLICIA RURAL MAONTADA . TENENTE GRAVANA ( ULTIMO A DIREITA ).

Da esquerda para direita : CAP PM ANISIO SEVERO PORTILHO, PAISANO, TEN PM CARLOS IVAN SILVA, TEN PM PAULO CESAR BENITES FAGUNDES, MAJ PM LÉO ... , TEN CEL PM ESMERALDO DA FONSECA FILHO; TEN PM ANTONIO CARLOS MACIEL RODRIGUES, TEN PM DIRLEI RIOGRANDINO FERREIRA OPPA, e MEU IRMÃO TEN PM JORGE GRAVANA PACHECO.

HISTÓRIA - Durante a Revolução Federalista de 1893 a 1895, a excepcional desenvoltura militar de João Francisco lhe valeu o prestígio junto aos governistas e o ódio dos federalistas, que cresceu após os desfechos do Campo Osório, onde foi ceifada a vida do Almirante Saldanha da Gama, em junho de 1895. 

No final da contenda, o esquadrão de João Francisco transformou-se no 2º Corpo de Cavalaria Civil, sob o comando da Divisão do General Hipólito Ribeiro. Quatro meses após a assinatura da paz de 23 de agosto de 1895, o agrupamento foi dispensado pelo Exército Nacional.

Porém, o presidente do Estado, Julio de Castilhos, determinou a sua conversão no 2º Regimento da Cavalaria Provisório da Brigada Militar, responsabilizando-o pelo patrulhamento da Fronteira. O regimento estacionou na Serra do Cati, localização estratégica na divisa de Livramento e Quaraí.Construiu-se aí um moderno quartel, que contava com água e esgotos encanados, iluminação a gás acetileno, residências para oficiais e soldados, oficinas, pequenas indústrias. 

Com o tempo, o Quartel do Cati ganhou uma linha telefônica e pombos-correio. Tinha ainda adjacente um núcleo colonial, que provia a tropa de gêneros e abrigava seus familiares. A fama das instalações correu fronteiras, despertando significativo interesse na imprensa no Uruguai, na Argentina e no Rio de Janeiro. Era considerado um quartel-modelo. Assim, com destacamentos bem municiados e adestrados e percorrendo permanentemente os campos e as cidades limítrofes, nada se movia entre Livramento e São Borja que escapasse às vistas de João Francisco.

FONTE: http://www.revistavoto.com.br/site/imprimir_coluna.php?id=60