Eram 2h15min quando os soldados da Brigada Militar Derquis Adriano Martins e Sedenir Silva toparam com uma Fiat Strada em alta velocidade, com pelo menos sete pessoas seminuas na caçamba. Não tiveram dúvidas: era um dos veículos usados pela quadrilha que acabara de explodir uma fábrica de joias em Cotiporã. E os desafortunados na caminhonete eram reféns dos bandidos.
Derquis e Sedenir, que trabalham no serviço reservado da BM em Bento Gonçalves, sabiam que a quadrilha faria o assalto, mas não sabiam onde. Foi então que receberam uma ligação, logo após a 1h30min, relatando 10 pequenas explosões de dinamite que destroçaram a fábrica de joias Guindani, em Cotiporã, distante 30 quilômetros de Bento.
A dupla ganhou apoio de dois outros policiais, pegou os fuzis, pistolas e entrou num Vectra com as cores da BM, se deslocando a mais de 100 km/h para Cotiporã. Foi no caminho, numa estrada de chão batido, que os PMs viram a caminhonete repleta de reféns — todos sem camisa, mãos para cima, apavorados.
Antes mesmo que pudessem se dar conta de que o veículo era da quadrilha, os brigadianos foram recebidos a bala. Uma saraivada de tiros de fuzil AK-47 acertou em cheio a viatura policial. Os PMs revidaram com tiros de fuzil FAL e mataram um bandido que estava num outro veículo, um Audi com placas frias, de São Luiz Gonzaga. O criminoso, que vestia colete a prova de balas e traje tático (estilo militar), morreu com um tiro na cabeça. Os outros criminosos dispararam e feriram os dois PMs que acompanhavam Derquis e Sedenir. Um deles, o soldado Neivaldo, recebeu tiros numa perna e num braço e ficou caído na estrada.
PM ferido em confronto com bandidos em Cotiporã passa bem. Neivaldo Nondillo está internado no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul
Dois PMS ficaram feridos em confronto com parte de uma quadrilha que havia atacado uma fábrica de joias, em Cotiporã. A ação ocorreu durante a madrugada deste domingo.
Neivaldo Nondillo, 40 anos, teria sido atingido por dois tiros de fuzil em um dos braços e em uma das pernas. O policial foi transferido do Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Veranópolis, para o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. De acordo com informações do hospital, Nondillo não corre risco de morte e se prepara para passar por uma cirurgia no braço.
O outro PM ferido é Leonardo Rafael dos Santos, 31 anos. Ele levou um tiro de raspão, foi atendido em Veranópolis, e liberado.
Confira, a partir daí, o relato de Derquis:
Zero Hora — Com o seu companheiro ferido, como vocês reagiram?
PM Derquis Martins — Tinha feridos dos dois lados, os veículos bloqueavam a estrada, aí negociamos uma trégua. Era uma situação surreal, invertida: estávamos em menor número. Eles eram uns sete em dois carros, nós em quatro. Mandaram a gente se entregar, mas reagimos. Parecia que eles eram policiais e nós os criminosos.
ZH — Vocês reagiram, mesmo eles estando com reféns?
Derquis — É que eles atiraram primeiro, acertando nossos colegas. Aí matamos um deles, o do Audi. Ficou um impasse. Negociamos, eles liberaram cinco reféns, mas aí eles tentaram abrir caminho à força, arrancando a caminhonete. Aí atiramos de novo e matamos mais dois deles, o Falcão e o Paulo César da Silva.
ZH — O senhor já tinha estado num tiroteio como esse?
Derquis — Sim. Participei do tiroteio que resultou na morte do Julianinho, em Caxias (comparsa de Falcão na mesma quadrilha desbaratada hoje). Mas desta vez foi pior, foi terrível, era tiro para tudo que é lado. Quase morremos. Ainda bem que estamos aqui para contar a história. Sinto pena é das sete pessoas que ainda estão reféns.